Divagações: Ratatouille

Quer coisa melhor que ver um filme da Pixar quando você está com vontade? Algo bonito, colorido e feliz, sem lições de moral durante tod...

Quer coisa melhor que ver um filme da Pixar quando você está com vontade? Algo bonito, colorido e feliz, sem lições de moral durante todo o tempo ou a necessidade de ser algo elevado. Também não é algo estúpido ou infantilizado demais. Às vezes, esses filmes são até poéticos, mas nada que deixe a sua sensibilidade muito a mostra.

Ratatouille é considerado um dos melhores filmes do estúdio. Ao mesmo tempo, tenho a impressão que é um dos menos vistos ou admirados aqui no Brasil. Eu tendo a colocar a culpa no título difícil e na temática pouco usual (é um rato na cozinha, gente!), mas talvez tudo não passe de uma simples impressão.

O filme conta a história de Remy (Patton Oswalt), um rato que sonha em levar uma vida diferente. Ele não quer simplesmente achar comida no lixo e comer, mas misturar ingredientes selecionados e produzir sabores incríveis. A oportunidade surge quando ele se perde de sua família e vai parar no restaurante de seu falecido ídolo culinário, Auguste Gusteau (Brad Garrett). Lá, um novo e atrapalhado funcionário, chamado Linguini (Lou Romano), acaba se metendo em encrencas culinárias e Remy o ajuda. Os dois acabam se tornando grandes amigos e unem seus interesses. O rato quer cozinhar e o humano quer crescer – ou pelo menos se manter – no emprego. Tudo funcionaria muito bem se o chefe Skinner (Ian Holm) não começasse, para seu próprio desespero, a desconfiar de algo.

Seguindo uma estrutura narrativa simples, porém interessante, o filme não tem um grande vilão (como, aliás, acontece na maior parte das animações da Disney, estúdio dono da Pixar), mas dois personagens que se opõe aos protagonistas. Um é Skinner, que oprime Linguini diretamente, e o outro é o crítico culinário Anton Ego (Peter O'Toole), que foi responsável pela queda do ídolo de Remy e, portanto, é visto como um inimigo. Essa preocupação em mostrar sempre os dois protagonistas, sem valorizar um sobre o outro prevalece durante todo o filme. Os dois têm momentos de erros e acertos, alegria e decepção (talvez a balança dos animadores penda para o lado do rato, mas eles se esforçam). Esse tipo de estrutura – que não se concentra totalmente em um único personagem – tem ficado cada vez mais comum nos filmes destinados às crianças, inclusive conquistando alguns sucessos. Suponho que deve ser mais atraente para aqueles que já nascem em um mundo conectado à internet, com muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.

Enfim, vencedor do Oscar de Melhor Animação e indicado em quatro outras categorias, Ratatouille marca o fim de uma era nos filmes da Pixar. Os filmes que o seguiram se tornaram mais maduros, ganhando uma aura de melancolia. Mesmo tendo apelo para crianças, Wall-E, Up e Toy Story 3 se tornaram inesquecíveis para os grandinhos. Aliás, o filme representa uma quebra em muitos aspectos: o final é pouco usual, os personagens “do bem” têm algumas atitudes questionáveis e, observando um aspecto mais “industrial”, é o último filme dirigido por Brad Bird até o momento. Ele colaborou com os filmes seguintes da empresa como uma espécie de consultor, enquanto prepara sua transição para os filmes com “atores de verdade” em Mission: Impossible - Ghost Protocol. Mas não se preocupe, talvez as coisas voltem a ser como eram com Cars 2, já que o filme tem uma temática mais leve.

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