Divagações: Super 8
11.8.11Talvez eu não seja o melhor indicado escrever esta resenha e, realmente, desde já espero encontrar opiniões conflitantes com a minha. Isso tudo porque eu não consegui gostar de Super 8, mas acredite que não foi por falta de esforço. Não me entendam mal, não que seja um filme ruim, ele apenas não conseguiu me cativar. Sendo sincero, acho que o problema maior está em mim, pois, se tem uma coisa que nunca consegui engolir foram estes filmes de garotada dos anos 1980. Mesmo na minha época de molecagem, não conseguia ficar parado na frente da televisão vendo The Goonies, The Sandlot, Stand by Me ou E.T.: The Extra-Terrestrial. Podem chamar isso do que quiserem – falha de caráter ou ausência de nostalgia –, mas esse não era um ‘gênero’ que me fascinava. Sendo Super 8 um sucessor espiritual destes filmes, já fui ao cinema preparado para desgostar. Falta de profissionalismo? Talvez, mas não sei se existe crítica ausente de certos vícios. Mesmo assim, não estou cego para os pontos positivos da obra: antes que peguem as pedras, só peço que tenham calma, tudo ao seu tempo.
Vou admitir que a história começa de modo bastante interessante, Joe Lamb (Joel Courtney) é um garoto comum, vivendo as suas primeiras férias de verão depois da morte precoce de sua mãe. Ele divide o seu tempo entre uma relação atribulada com o seu pai, o policial Jackson Lamb (Kyle Chandler), e a produção de um filme de zumbis com seus amigos Charles (Riley Griffiths), Alice (Elle Fanning), Cary (Ryan Lee) e Martin (Gabriel Basso). Durante as filmagens, Joe e seus companheiros acabam presenciando o descarrilamento de um trem, que é acompanhado por todo tipo de evento misterioso na pequena cidade onde vivem os garotos. Desse ponto em diante, a trama enxuta é rodeada por monstros assassinos, intervenções militares e todo o tipo de pretexto para o heroísmo das crianças.
Se tem algo claro, é que a trama transborda de inspirações ‘spielberguianas’, sem deixar de lado o estilo marcante do diretor J.J. Abrams – com mistérios, monstros que são pouquíssimo mostrados, e muitos, mas muitos efeitos de luz. Se pudesse definir rapidamente o que é Super 8, sem dúvida diria que este é o encontro entre Cloverfield e E.T.: The Extra-Terrestrial. Mas, ao dizer isso, surge a seguinte pergunta: Super 8 consegue unir o melhor dos dois mundos? Consegue, mas também trás defeitos de ambos os lados.
Um dos grandes méritos desta união é conseguir fazer um filme que transpira nostalgia por todos os poros, mas cair na armadilha de ser datado demais. A ambientação, as situações e os personagens, tudo é um grande ode aos filmes da década de 1980. Se você era um espectador assíduo da Sessão da Tarde, vai se sentir em casa. Super 8 tem tudo o que estes filmes tinham, com direito a personagens caricaturais, cenas de vômito e crianças salvando o dia mais uma vez. Infelizmente, não sei o quanto o público infantojuvenil dos dias de hoje irá conseguir absorver de Super 8, visto que sem esse referencial o filme perde muitas das suas qualidades.
O roteiro em si peca em alguns pontos importantes, deixando de amarrar várias pontas soltas e levando a um desfecho um pouco forçado, fazendo que em diversos momentos a trama pareça estar dando voltas sem chegar a uma conclusão consistente, o que para alguns vai acabar se tornando um pouco tedioso. Vendo por este lado, a falta de ritmo talvez seja o maior ponto desfavorável de Super 8. Esse tempo desperdiçado com artifícios de roteiro poderia ter sido utilizado para desenvolver a coisa mais importante em filmes deste tipo, os personagens, que acabam não sendo tão icônicos e interessantes quanto deveriam.
Retomando o meu raciocínio, Super 8 está muito longe de ser um filme ruim. Há uma grande atenção nos detalhes para fazer dele uma excelente máquina do tempo, nos levando para uma época mais inocente de nossas vidas. Sua maior falha, entretanto, é depender demais do expectador e das suas vivências para verdadeiramente divertir. Se você quiser lembrar os tempos onde voltava da escola e ia ver um filme na televisão, com certeza irá gostar. Mas para quem não tem tanto senso de nostalgia, Super 8 realmente não se sustenta.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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