Divagações: Contagion
27.10.11
Não posso afirmar que estava empolgadíssimo para ver Contagion, mas
sem dúvida estava curioso. Afinal, este seria um dos últimos filmes de Steven Soderbergh antes da anunciada aposentadoria
e, praticamente, a obra que abriria a temporada do Oscar, isso sem contar com a
divulgação maciça e um elenco bastante respeitável. Ou seja, é fato que
Contagion gerou grandes expectativas, mas a pergunta final é: será que o filme está
a par delas?
Sinceramente,
não sei muito bem como dar um pequeno resumo a respeito do filme e, acreditem,
estive pensando nisso desde que sai da sala de cinema. Como não há personagens
principais ou uma história central, é difícil ser breve sem omitir partes
importantes ou trazer a tona coisas igualmente irrelevantes.
Sejamos
um pouco injustos, então: Tudo começa quando uma estranha e nova doença,
particularmente letal, começa a tirar vidas e causar pânico. Enquanto ela se
espalha, vemos por vários ângulos suas causas e consequências para toda a
humanidade. Quer seja no âmbito pessoal com o drama de Mitch Emhoff (Matt Damon), marido da suposta paciente zero Beth Emhoff (Gwyneth Paltrow), ou no
social através de personagens como o blogueiro paranoico Alan Krumwiede (Jude Law), o médico Ellis Cheever (Laurence Fishburne) ou a epidemiologista Ally Hextall (Jennifer Ehle). Lembrando que também estão no elenco Marion Cotillard,
Kate Winslet e
outros nomes importantes.
Nessa
narrativa fragmentada e com muitas camadas está a maior fraqueza do filme.
Viram a quantidade de personagens aos quais eu me referi acima? Ainda existem
muitos outros que foram deixados de fora da resenha, mas tem tanto tempo em
tela quanto os já citados. Com isso, o resultado final acaba sendo bastante
prejudicado.
O
problema maior seria, então, a ausência de um fio condutor que costura a
história de modo eficiente. Ao invés de uma trama com motivações e mensagens
próprias, cada personagem traz uma mudança de rumo na narrativa, danosa ao que
já havia sido construído no filme. O diretor não se decide em momento algum se
o filme trata de um drama pessoal em meio a um cenário amplo, o retrato de uma
sociedade a beira do colapso ou a história da própria doença e como ela
interfere na vida das pessoas. Cada um destes estilos aparece em meio ao filme,
mas nunca chegam a se concretizar. Vemos em muitas cenas um grande potencial,
mas, dez minutos depois, este pedaço da trama é deixado de lado e esquecido se
não para sempre, por tempo demais para que nos importemos – ciclo que se repete
diversas vezes. Assim, não importam as boas atuações, já que em poucos momentos
conseguimos realmente nos importar com os personagens.
Em
um filme como este, onde o roteiro é um dos poucos atrativos, Contagion falha.
Seja em entregar uma obra consistente ou em simplesmente empolgar. É claro que
em momento nenhum você pode apontar e dizer que é uma obra ruim – longe disso,
é apenas um filme inconstante que acaba por boicotar muitos dos pontos positivos
que poderiam ter vindo a tona se fossem melhor desenvolvidos.
Assim, essa acaba sendo uma obra morna e que não cumpre muitas de
suas promessas. Se você esperava uma história sobre a decadência de uma
sociedade, como o slogan “Nada se espalha como o medo” nos fazia acreditar, é
com tristeza que digo que você sairá do cinema com as mãos abanando. Contagion,
nesse aspecto, não consegue superar Blindness, que mesmo com todas as falhas de
execução se mostra um filme mais autêntico e memorável. No final, só resta a
ele, a exemplo dos próprios personagens, uma passagem rápida por nossas vidas
que logo será esquecida.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
2 recados
vou assistir, mas sem grandes expectativas.
ResponderExcluirO único filme que gostei com Matt Damon foi Zona Verde. Não gosto muito desse ator. Pode parecer preconceito, mas estou fugindo de filmes onde o "bendito" aparece. Irei ser, agora, um pouco mais flexível por causa de teu texto. Goste dele. Um abraço...
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