Divagações: Fright Night

Olhando para trás, vejo que a época dos filmes de terror mais pipoca já passou. Quero dizer, apesar de termos boas franquias (financeir...

Olhando para trás, vejo que a época dos filmes de terror mais pipoca já passou. Quero dizer, apesar de termos boas franquias (financeiramente) como Saw ou Paranormal Activity, já se foi a época em que a garotada esperava – escondida, é claro – até altas horas da noite para ver coisas como Friday the 13th ou Child's Play no Cinema em Casa. Sejamos sinceros, se vocês têm mais ou menos vinte anos vão conseguir lembrar dos seus amigos comentando sobre como este ou aquele filme era macabro.

Antes que me entendam mal, não quero colocar o Fright Night de 1985 no mesmo balaio de A Nightmare on Elm Street, afinal, o próprio gênero do filme é bastante diferente. Apenas atento para o fato de que a primeira versão nunca teria existido sem toda uma geração de filmes de terror anteriores. Era uma época bem mais inocente, onde alguns sustos baratos conseguiam fazer um grande sucesso de bilheteria. Dito isso, fico até meio chateado pelo fracasso financeiro desse novo Fright Night, que mal está se pagando nos cinemas pelo mundo.

A história, mesmo com algumas diferenças marcantes em relação a sua encarnação original, mantém-se nas mesmas linhas gerais. Charley Brewster (Anton Yelchin) é um rapaz comum e sem muitos atributos positivos. Quando famílias inteiras começam a sumir, seu amigo de infância Ed (Christopher Mintz-Plasse) o procura para ajudá-lo a revelar a terrível verdade: seu novo vizinho, Jerry (Colin Farrell), é na verdade um vampiro que vem devorando secretamente a vizinhança. Assim, quando as coisas dão errado, Charley, sua mãe e sua namorada Amy (Imogen Poots) se veem ameaçados por Jerry e a única esperança parece ser Peter Vincent (David Tennant), um mágico excêntrico de Las Vegas, que se diz especialista em combater todo o tipo de criatura sobrenatural.

No geral, as atuações são bastante competentes, o que deixa transparecer que este deve ter sido um filme bastante divertido de se fazer. Yelchin, apesar de ter poucos anos de cinema consegue se manter crível no papel, mas, mesmo assim, os maiores méritos estão justamente no vilão e no anti-herói. Colin Farrell conseguiu fazer um vampiro que é moderno sem ser melodramático e existencialista, muito mais próximo a um serial killer do que à figura clássica que temos no cinema. Já David Tennant mostra que é um grande ator, apesar de desconhecido do público americano, e faz por valer a sua presença em Hollywood.

Como já disse, esse não é puramente um filme de terror. Aqueles mais familiarizados com a série sabem que Fright Night possui similaridades com os filmes de Sam Raimi, sobretudo a série The Evil Dead e o mais recente Drag Me to Hell, misturando cenas de horror com situações cômicas. Esse é um gênero pouco presente nos holofotes, apesar de certamente nunca ter caído no ostracismo. Assim, se você espera um filme de terror mais tradicional – ou mesmo uma comédia de verdade –, é melhor mudar um pouco as expectativas, sob risco de se decepcionar.

Apesar de ter sido filmado em 3D, os efeitos especiais de Fright Night não são particularmente empolgantes, sobretudo porque o filme é absolutamente escuro (como é natural em um filme com vampiros) e é difícil aproveitar muito bem um recurso que vai ser atrapalhado por cenas com pouca iluminação. Enfim, é cada vez mais complicado ver um filme sair do feijão com arroz e isso só me faz ter descrenças com relação ao futuro do cinema em três dimensões.

Em síntese, só posso dizer que, apesar de não ser um grande clássico, e nem tão recomendável para aqueles que se indispõem a certas misturas de gêneros, esse é um belo programa para o fim de semana, sobretudo para ver com os amigos, e sem muitas preocupações na cabeça. Com bons momentos que te prendem na cadeira e com outros que te fazem rir, Fright Night é o filme pipoca perfeito para aqueles que carregam uma centelha de nostalgia da época em que brinquedos assassinos e serial killers zumbis poderiam ser considerados uma diversão familiar.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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