Divagações: Rental Family

Rental Family

Com a temporada de premiações se desenhando, o nome de Brendan Fraser é um belo chamariz para Rental Family. Entretanto, esse não é um dramalhão de olho na estatueta, mas uma mistura de drama e comédia que busca meramente aquecer corações por aí – os recursos para isso não são os mais criativos, mas funcionam.

Em resumo, Phillip Vanderploeg (Fraser) é um ator norte-americano tentando a vida no Japão. Ele até já conseguiu alguns comerciais de destaque, mas nada de realmente relevante. Então, quando não está correndo atrás de testes ou de trabalhos menores para conseguir sobreviver, ele está sozinho em seu apartamento, espiando a vida dos outros pelas janelas.

Uma nova oportunidade surge quando ele conhece Shinji Tada (Takehiro Hira), o dono de uma agência que “aluga” familiares para as pessoas. Em pouco tempo, Phillip passa a interpretar noivos, pais e amigos; o problema é que, com alguma frequência, ele precisa interagir com pessoas que acreditam que ele é o que diz ser. E, para o desespero de sua colega Aiko Nakajima (Mari Yamamoto), ele tende a se envolver emocionalmente.

Entre os “clientes” inadvertidos, ganha destaque Mia Kawasaki (Shannon Mahina Gorman), uma menina que precisa de um pai presente para ser admitida em uma escola particular de prestígio. Embora estivesse inicialmente relutante em interagir com o “genitor” até então ausente, ela acaba se deixando envolver e cria um vínculo real com o ator, o que preocupa sua mãe (Shino Shinozaki).

Outro caso digno de menção é o do grande ator e escritor Kikuo Hasegawa (Akira Emoto) que, com sua saúde fragilizada e a memória enfraquecida, aceita receber um “repórter” disposto a entrevistá-lo sobre seu legado. Com o passar do tempo, o idoso começa a pedir favores ao novo amigo, que tem dificuldades de negar, embora isso esteja contra a recomendação de sua real cliente, a filha (Sei Matobu).

Desta forma, Rental Family é inerentemente melancólico, pois intercala uma série de histórias que envolvem pessoas fragilizadas. No meio de tudo isso, a carga acaba se tornando pesada demais para um protagonista carente de afeto – e que, convenhamos, assumiu um trabalho que demandaria um preparo maior. Assim, quando Phillip comete um erro grave, os vínculos que ele realmente fez pelo caminho são realmente testados.

Ao mesmo tempo, a produção consegue ser realmente engraçada. Obviamente, não são piadas que fazem o cinema vir abaixo de tanto gargalhar, mas são retratos de momentos muito humanos, que demandam empatia e que mostram como a diretora e roteirista Hikari conseguiu traduzir o humor do cotidiano por meio do olhar de alguém que está “de fora”.

Mas, para conquistar esse objetivo, a cineasta precisou de um bom elenco. Afinal, mais do que das habilidades de Brendan Fraser (que, sinceramente, poderia se limitar à expressão de bebê prestes a chorar), Rental Family demanda um elenco de apoio convincente e aberto. Neste sentido, tanto Gorman quanto Emoto são fenomenais.

Não à toa, por mais que eu não aposte em Rental Family como uma grande produção que vai acumular uma centena de prêmios, o filme já conquistou algumas honrarias – e, em grande parte, elas vieram do público de festivais. Afinal, ainda que não esteja reinventando a roda e caia em uma série de clichês, o longa-metragem sabe exatamente o efeito que quer causar (e é um bom impacto). Eu não me surpreenderia se ele se tornar o filme favorito de muita gente.

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