Divagações: El Secreto de Sus Ojos
8.11.11
O orgulho nacional às vezes cega as pessoas. Ao invés de achar injusto
os argentinos ganharem um Oscar, por que não se pode aprender com eles? Em
2010, o vencedor na categoria de melhor filme em língua estrangeira foi El Secreto de Sus Ojos, que tem tantos aspectos similares a nossa cultura que
poderia muito bem ter sido feito no Brasil. Muitas dessas semelhanças são
facilmente perceptíveis, como a lentidão e a ineficiência da justiça, a
corrupção do governo e da polícia, além do próprio modo novelesco de contar uma
história. Quem disse que isso faz mal para o cinema ou para a imagem do país?
Em El Secreto de Sus Ojos, Benjamín Espósito (Ricardo Darín) é um oficial de justiça recém-aposentado que resolve escrever um romance
baseado em um dos casos mais polêmicos de sua carreira. Para isso, ele pede a
ajuda de sua superior, a juíza Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil) e
parte em busca das figuras do passado.
O tal caso é um estupro seguido de assassinato que
vitimou a bela jovem Liliana Coloto (Carla Quevedo), de 23 anos. Durante as
investigações, Espósito teve que lidar com a má vontade de colegas,
especialmente Romano (Mariano Argento). Ao seu lado, no entanto, estava seu
fiel – e bêbado – escudeiro, Pablo Sandoval (Guillermo Francella). Além disso,
outras características fizeram desse caso único, como o incrível amor do jovem
marido (Pablo Rago) pela esposa e a presença incômoda de um admirador da moça,
chamado Isidoro Gómez (Javier Godino). Tudo aliado a um clima político bastante
tenso, afinal estamos na América Latina durante a década de 1970.
El Secreto de Sus Ojos, aliás, não nega suas origens.
O roteiro do filme condiz com a maneira argentina de contar histórias e com sua
carga dramática própria (embora chegue a fazer graça dessa narrativa exagerada
em determinado ponto). Além disso, um espectador exclusivamente de filmes
estadunidenses pode estranhar a fotografia, ao menos antes de perceber o que é
o presente dos personagens e o que são as suas lembranças. Essa nacionalidade
assumida com maturidade (ou seria melhor simplesmente dizer “não escondida”?)
faz com que a trama transcorra com maior naturalidade, pois o ambiente parece
mais real e crível.
No entanto, não foi (somente) por isso que o filme
ganhou um Oscar. A história é bem desenvolvida e intrigante, com personagens
sagazes e capazes de manter seu interesse. Embora alguns aspectos sejam um
pouco enrolados e outros pareçam forçados, o filme prende a atenção e cumpre
bem o seu papel. Mesmo que a maquiagem, por exemplo, possa deixar a desejar,
isso se transforma em detalhe. Além disso, o processo de encantamento do
espectador também passa pela música, dramática e suave ao mesmo tempo.
No final das contas, não importa se El Secreto de Sus Ojos é argentino, brasileiro, canadense, inglês ou japonês, o que vale é a
maneira como você encara o produto final. Claro que um filme não pode ser
separado de seu contexto de produção para que seja feita uma análise adequada,
mas, ainda assim, é importante se deixar levar. É ótimo sentar na pontinha da
poltrona, sentir a tensão e ficar a espera do que vai acontecer no próximo
instante, tentando adivinhar e mudando de opinião a cada nova revelação.
1 recados
Realmente, Renata, o contexto social parece e muito com o nosso. Mas, porque será que eles ganharam e nós não? Parece que depois de "Carandiru" um onda de filme e seriados violentos tem tomado conta de nossa telas. Será que se faz necessário essa onda tão tempestuosa? Acho que pra tudo há um tempo. Não vi esse filme, El Secreto de sus Ojos, mais gosto mesmo de filme que explorem questões de natureza reflexiva e subjetiva. Nos faz pensar. Quiças, este seja um dos tais. Muito tem se falado do "Palhaço" de Celton Melo. Irei vê-los. Um sempre um prazer está, aqui. Boa ideias. Convido você, também, pra dá uma passadinha lá. Temos boas novidades. Um abraço...
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