Divagações: Something’s Gotta Give

Retratar o universo feminino é sempre um desafio que exige delicadeza, bom senso e uma capacidade incrível de rir de si mesmo. Nancy Meye...

Retratar o universo feminino é sempre um desafio que exige delicadeza, bom senso e uma capacidade incrível de rir de si mesmo. Nancy Meyers deve ser um verdadeiro mestre nessas características, uma vez que escreveu e dirigiu Something's Gotta Give, The Holiday e It's Complicated, além de ter outros filmes similares no currículo. Claro que ser mulher não é só isso, mas nós simplesmente adoramos esses filmes! Sem contar que, depois de convencer o namorado a ver também, até eles se divertem.

Something's Gotta Give brinca com a ideia de romances com grandes diferenças de idades. Marin (Amanda Peet) é uma jovem que se envolve com o sessentão famoso Harry Sanborn (Jack Nicholson). Ela leva o ‘namorado’ para a casa de praia da mãe durante um final de semana, mas esquece de confirmar se a própria não está em casa. Erica Barry (Diane Keaton) é uma dramaturga bem-sucedida que não se envolveu com ninguém desde o término de um casamento de mais de 20 anos com o diretor de suas peças. Ela (mais ou menos) se esforça para lidar bem com a situação ao ver a filha com um solteirão convicto, mas as coisas se complicam depois que ele tem um ataque do coração e ela acaba virando a babá do doente depois que o final de semana acaba e a filha precisa voltar ao trabalho. Ainda bem que o médico bonitão Julian Mercer (Keanu Reeves) resolve chamá-la para sair – ou não, já que isso representa o início de um divertido triângulo amoroso.

Embora se desenvolva de uma maneira bastante óbvia, Something's Gotta Give não incomoda nesse ponto. O ótimo elenco compensa qualquer problema com atuações baseadas em detalhes, entregando pequenos trejeitos aos personagens que são capazes de dizer tudo o que precisamos saber sobre eles (Diane Keaton, inclusive, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel). Além disso, o filme tem um humor na medida. Não dá para guardar rancor em nenhum momento, pois o troco é dado como deveria e de uma forma que torna possível perdoar qualquer coisa em meio a risadas. Sim, o filme é uma comédia romântica de verdade, não apenas um romance água com açúcar.

Para quem despreza totalmente o gênero, esse filme não traz grandes surpresas. É bonitinho, engraçadinho e – embora apareçam pessoas seminuas – perfeitamente dentro do que se espera. O caminho cheio de pequenas reviravoltas não deixa de ser óbvio, mas você pode curtir ao se deixar levar e não sendo uma pessoa completamente ranzinza. Ainda assim, durante todo o filme, eu torci para o cara que perde no final. Claro que era fácil de perceber o que iria acontecer, mas nesse filme não há vilões – apenas pessoas normais que precisam escolher um caminho. Você pode até discordar dos personagens, mas entende perfeitamente as atitudes que eles tomaram.

Something's Gotta Give é um filme com final feliz que pode trazer algumas lições para a vida, pois trata do próprio crescimento dos personagens. Entre as minhas sequências favoritas está o escândalo de Sanborn após falar com o médico em sua primeira ida ao hospital e o choro escandaloso de Erica (seguido pela inspiração súbita para escrever). Quais são as suas?

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