Divagações: The Help

Algumas temáticas são de difícil abordagem. Em uma dessas brincadeiras de internet, por exemplo, o objetivo era fazer os cartazes dos fil...

Algumas temáticas são de difícil abordagem. Em uma dessas brincadeiras de internet, por exemplo, o objetivo era fazer os cartazes dos filmes indicados ao Oscar ‘dizerem a verdade’. No caso de The Help, o título foi substituído por Pessoas Brancas Resolvem o Racismo. Embora isso não faça exatamente justiça ao produto final, não se pode negar que o filme foi vendido dessa forma, o que garante certo mal-estar. Eu mesma tinha dúvidas sobre como o filme poderia fazer para falar sobre preconceito racial sem trazer seus próprios preconceitos e algo nos materiais promocionais me passava a mensagem de que os brancos são tão magnânimos que até deram o direito de igualdade aos negros (como muitos outros filmes já fizeram no passado).

Ainda bem que as pessoas podem se livrar de seus preconceitos se estiverem com a mente aberta o suficiente para enxergar a verdade. Afinal, O próprio título The Help não significa necessariamente a ajuda que os brancos dão aos negros, pois é um termo usado para designar as empregadas domésticas. Como essa expressão não funciona no Brasil, ela foi evitada tanto no título nacional quanto nas legendas, onde vemos Histórias Cruzadas e A Resposta, respectivamente.

O filme conta a história da jovem escritora Skeeter Phelan (Emma Stone). Recém formada, ela volta para sua cidade natal, no Mississipi, onde precisa cuidar da mãe doente, ganhar experiência na área e, se possível, arranjar um namorado. Assim, ela consegue um espaço no jornal local, mas na coluna sobre limpeza doméstica. Como não entende nada do assunto, pede ajuda para Aibileen Clarck (Viola Davis), que trabalha na casa de uma amiga. Ao presenciar as humilhações que ela sofre, Skeeter resolve escrever um livro a partir do ponto de vista das empregadas domésticas que, de certa forma, ainda são vistas pela população local como escravas. Nesse processo, ela entra em confronto com outra amiga, Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), que está envolvida em medidas sanitárias importantes, como construir banheiros exclusivos para os negros do lado de fora das casas dos brancos. Uma ex-empregada de Hilly, Minny Jackson (Octavia Spencer), também se torna importante fonte de informações para o livro e uma nova-rica, Celia Foote (Jessica Chastain) apresenta os novos dilemas do povo americano.

Um dos aspectos mais interessantes do filme, provavelmente, é a maneira como ele constrói as situações e demonstra como não devemos julgar as pessoas apenas com base em alguma atitude específica e/ou fora de seu contexto original. É tudo uma questão de valores e eles já foram muito diferentes do que são hoje (e provavelmente vão continuar mudando, não se engane). Além disso, a realidade financeira apresentada é muito diferente da brasileira atual, afinal, apesar de ter que fazer muita economia, as empregadas domésticas ganhavam o suficiente para ter boas casas e mandar os filhos para universidades, ou quase isso. No final das contas, embora a personagem de Emma Stone ajude, são elas mesmas que fazem a iniciativa dar certo e repercutir.

Embora traga uma história muito interessante e boas atuações, The Help não chega a trazer muitos elementos novos. O figurino da época garante certo charme (e algumas risadas) e, visualmente, tudo é muito colorido e contrastante, parecendo até que voltamos para a época do Tecnicolor. A narrativa é linear, mas com alguns flashbacks e todo o desenvolvimento é bastante óbvio, mesmo que bastante envolvente (pessoas sensíveis: não esqueçam dos lencinhos!). De qualquer modo, não é de se surpreender que o reconhecimento da Academy tenha vindo concentrado em indicações na área de atuação. Viola Davis, Octavia Spencer e Jessica Chastain (a primeira na categoria de Melhor Atriz e as outras na de Melhor Atriz Coadjuvante), sem dúvida, estão ótimas e Bryce Dallas Howard provavelmente também merecia uma indicação.

Para quem está na dúvida, esqueça seus preconceitos e assista The Help com a mente aberta. O filme tem muito a dizer, abertamente e nas entrelinhas. O diretor e roteirista Tate Taylor mostra sensibilidade e humor, ao mesmo tempo em que mostra a que veio no cinema. Seu trabalho talvez ainda precise de um pouco de amadurecimento e identidade autoral, mas tem muito potencial.

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