Divagações: The Ides of March
8.2.12
Já
conheço meu voto para as próximas eleições: George Clooney é o meu candidato
para a presidência. Além de dirigir, escrever, produzir e atuar em The Ides of March, ele ainda entregou um bom filme e surpreendeu com a plataforma que
desenvolveu para o seu candidato fictício. Utópica? Com certeza, mas acho que
seria ótimo lidar com as grandes questões na busca de resolvê-las em definitivo
que criando projetos apenas para minimizar os problemas durante o período do
governo.
Opiniões
políticas a parte, The Ides of March não é exatamente sobre um candidato, mas
sobre uma campanha. Não exatamente a campanha presidencial para valer, mas as
prévias, onde se escolhe por votações estaduais e dentre os membros de um mesmo
partido – no caso, o Democrata – quem vai concorrer para o cargo de maior
importância no governo dos Estados Unidos. Isso, no entanto, não quer dizer que
a disputa seja mais amigável. Paul Zara (Philip Seymour Hoffman) e o iniciante Stephen Meyers
(Ryan Gosling)
são os responsáveis pelo comitê do governador e candidato Mike Morris
(George Clooney),
enquanto Tom Duffy
(Paul Giamatti)
é o representante do rival. Também entram no quadro a jornalista Ida Horowicz
(Marisa Tomei)
e a estagiária Molly Stearns (Evan Rachel Wood), que garantem um tempero a mais para a
tensão.
Nesse
clima de bastidores, ninguém esconde que estão em jogo alianças importantes e
que nem tudo é bonito e cheio de idealismos. A linha entre a decência e a sujeira
é tênue e às vezes fica difícil delimitá-la. Para completar, não basta um
candidato ser melhor que o outro ou definir parcerias mais eficientes, é
preciso abalar a equipe do adversário para conseguir correr na frente e montar
estratégias melhores. Assim, chega um ponto em que é, praticamente, cada um por
si – e quem sabe mais podres consegue ter mais liberdade para jogar. Dessa
forma, não se trata de quem é o melhor candidato, mas de quem lida melhor com
as diferentes pressões e consegue agradar mais gente (o que me faz pensar que uma
versão nacional desse filme, provavelmente, acabaria bem mais suja e cheia de
dinheiro).
O
elenco, nesse contexto, trabalha sempre no limite, demonstrando a tensão crescente.
Ganhando cada vez mais respeito com papéis sérios, Ryan Gosling
se destaca não apenas por ter 1,85m de altura (isso faz diferença em algumas
cenas), mas pela credibilidade que dá ao seu personagem. Ele vai mudando
gradualmente no decorrer da história até que precisa lidar com muita coisa de
uma vez só, definindo todo o percurso do filme. Sim, é muito poder para um
novato no ramo e dificilmente daria certo, mas embarcamos com ele sem
questionar.
Outro
aspecto que valoriza o filme é a iluminação. Ela já havia sido bem trabalhada
no filme anterior de George Clooney – Good Night, and Good Luck –, mas aqui
assume uma função narrativa e até política, hierarquizando a maneira como
devemos olhar para as cenas e para os personagens. Embora um uso como esse seja
relativamente comum em filmes onde há poder político em jogo, aqui a iluminação
tem opinião própria e acompanha o que você deveria estar pensando a respeito
dos personagens, demonstrando desde fragilidade até falta de caráter. Sim, o
filme tem opinião própria a respeito de si. Tem gente que acha isso ruim, mas é
apenas uma escolha narrativa.
Trabalhado
dessa forma, não é surpreendente que o filme tenha conquistado tantas
indicações e prêmios. Ele conta uma história absolutamente envolvente através
de personagens bem desenvolvidos e sempre no limite. Em The Ides of March,
dessa forma, há mais tensão que em muito filme de ação, sem nunca se apelar
para correrias e perseguições. Tudo acontece com base na inteligência dos
envolvidos, o que é absolutamente atraente para quem busca por um cinema de
qualidade.
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