Divagações: Sherlock Holmes - A Game of Shadows
6.2.12
Sempre gostei bastante de histórias de mistério e nunca guardei
segredo a respeito. Mesmo preferindo o hardboiled (estilo literário normalmente
associado a histórias de detetive que começou na década de 1920 e foi refinado
a partir da década seguinte), respeito e aprecio a grande obra de Arthur Conan Doyle, resultado dessa onda vitoriana que deu origem também a Hercule Poirot e tantos
outros. Assim, não pude deixar de ter certas expectativas quando Guy Ritchie
resolveu adaptá-la para o cinema, afinal de contas, não sabia se o estilo sujo
e sem meias palavras do diretor caberia em uma Londres do século XIX.
No final das contas, entretanto, por mais que críticas pudessem ser feitas,
Sherlock Holmes acabou se mostrando um filme divertido e interessante, que em
momento algum tenta esconder que já pretendia ter uma continuação. A questão é,
com a sequência viria também uma queda de qualidade?
Em Sherlock Holmes: A Game of Shadows, a história se passa logo depois
do término do filme anterior, mostrando como Irene Adler (Rachel McAdams) usava
seus ‘talentos’ para trabalhar para o maquiavélico professor James Moriarty
(Jared Harris), uma brilhante mente criminosa que planeja desestruturar os
governos europeus, jogando o continente inteiro em uma sangrenta guerra
mundial. Atrás deles está o famoso Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), um
pouco abalado pelo eminente casamento de seu parceiro e colega o doutor John Watson
(Jude Law). Com as instituições políticas cada vez mais agitadas, cabe aos dois
solucionar um último caso – e impedir que Moriarty atinja os seus objetivos.
Ao contrário de seu predecessor, a história desse novo filme não se
passa toda em Londres, incluindo vários outros cenários por toda a Europa. Para
quem acha que o mérito do diretor é efetivamente retratar a cidade, essa é uma
mudança que enfraquece um pouco do charme que vimos no primeiro capitulo da
série. O ritmo acaba sendo um pouco prejudicado com as mudanças drásticas de ambientação,
fazendo com que a narrativa fique um pouco fragmentada e, efetivamente, a
história aconteça em três blocos distintos ao invés ter uma linha coesa de
desenvolvimento.
Assim, já vou avisando, não espere mais do mesmo! Entre este filme e o
primeiro existem algumas diferenças bastante consideráveis, nem todas elas
positivas. O primeiro ponto a se denotar é que enquanto no anterior tínhamos um
pouco mais de investigação e dedução (sem abrir mão da correria), em Sherlock Holmes: A Game of Shadows boa parte do desenvolvimento acontece nas vias de
fato, com mais perseguição e sem muito espaço para um confronto de intelectos
entre Moriarty e Holmes, como era de se esperar pelo título. Um pouco
decepcionante, já que são raras as vezes onde temos a impressão de que Sherlock
é realmente um sujeito brilhante.
Se há alguma melhoria significativa nesta continuação é a relação
entre Watson e Holmes, que é melhor explorada e rende bons momentos. Apesar de
alguma conotação romântica, já existente no filme anterior, temos aqui uma boa
química que funciona bem em tela. O abuso da câmera lenta também está de volta,
gerando ao menos uma interessante sequência de tiroteio que mais serve de apelo
visual do que para avançar a história em si.
Mesmo tendo diversas falhas, Sherlock Holmes: A Game of Shadows é um
daqueles filmes divertidos para se ver sem pretensões. O detetive de Downey Jr.
com certeza não é a melhor representação do personagem no cinema, mas funciona
muito bem no universo em que está inserido. Talvez tenha faltado um pouco mais
de refinamento na execução, um ritmo mais lento e uma colher do estoicismo
inglês. Aqueles que não ligam para estas liberdades e só querem ver um filme de
aventura devem ficar satisfeitos, mas se você busca algo mais fidedigno a obra
original, talvez a série de televisão Sherlock, produzida pela BBC, seja uma indicação melhor para esse
início de ano.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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