Divagações: Sherlock Holmes - A Game of Shadows

Sempre gostei bastante de histórias de mistério e nunca guardei segredo a respeito. Mesmo preferindo o hardboiled (estilo literário norma...

Sempre gostei bastante de histórias de mistério e nunca guardei segredo a respeito. Mesmo preferindo o hardboiled (estilo literário normalmente associado a histórias de detetive que começou na década de 1920 e foi refinado a partir da década seguinte), respeito e aprecio a grande obra de Arthur Conan Doyle, resultado dessa onda vitoriana que deu origem também a Hercule Poirot e tantos outros. Assim, não pude deixar de ter certas expectativas quando Guy Ritchie resolveu adaptá-la para o cinema, afinal de contas, não sabia se o estilo sujo e sem meias palavras do diretor caberia em uma Londres do século XIX.

No final das contas, entretanto, por mais que críticas pudessem ser feitas, Sherlock Holmes acabou se mostrando um filme divertido e interessante, que em momento algum tenta esconder que já pretendia ter uma continuação. A questão é, com a sequência viria também uma queda de qualidade?

Em Sherlock Holmes: A Game of Shadows, a história se passa logo depois do término do filme anterior, mostrando como Irene Adler (Rachel McAdams) usava seus ‘talentos’ para trabalhar para o maquiavélico professor James Moriarty (Jared Harris), uma brilhante mente criminosa que planeja desestruturar os governos europeus, jogando o continente inteiro em uma sangrenta guerra mundial. Atrás deles está o famoso Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), um pouco abalado pelo eminente casamento de seu parceiro e colega o doutor John Watson (Jude Law). Com as instituições políticas cada vez mais agitadas, cabe aos dois solucionar um último caso – e impedir que Moriarty atinja os seus objetivos.

Ao contrário de seu predecessor, a história desse novo filme não se passa toda em Londres, incluindo vários outros cenários por toda a Europa. Para quem acha que o mérito do diretor é efetivamente retratar a cidade, essa é uma mudança que enfraquece um pouco do charme que vimos no primeiro capitulo da série. O ritmo acaba sendo um pouco prejudicado com as mudanças drásticas de ambientação, fazendo com que a narrativa fique um pouco fragmentada e, efetivamente, a história aconteça em três blocos distintos ao invés ter uma linha coesa de desenvolvimento.

Assim, já vou avisando, não espere mais do mesmo! Entre este filme e o primeiro existem algumas diferenças bastante consideráveis, nem todas elas positivas. O primeiro ponto a se denotar é que enquanto no anterior tínhamos um pouco mais de investigação e dedução (sem abrir mão da correria), em Sherlock Holmes: A Game of Shadows boa parte do desenvolvimento acontece nas vias de fato, com mais perseguição e sem muito espaço para um confronto de intelectos entre Moriarty e Holmes, como era de se esperar pelo título. Um pouco decepcionante, já que são raras as vezes onde temos a impressão de que Sherlock é realmente um sujeito brilhante.

Se há alguma melhoria significativa nesta continuação é a relação entre Watson e Holmes, que é melhor explorada e rende bons momentos. Apesar de alguma conotação romântica, já existente no filme anterior, temos aqui uma boa química que funciona bem em tela. O abuso da câmera lenta também está de volta, gerando ao menos uma interessante sequência de tiroteio que mais serve de apelo visual do que para avançar a história em si.

Mesmo tendo diversas falhas, Sherlock Holmes: A Game of Shadows é um daqueles filmes divertidos para se ver sem pretensões. O detetive de Downey Jr. com certeza não é a melhor representação do personagem no cinema, mas funciona muito bem no universo em que está inserido. Talvez tenha faltado um pouco mais de refinamento na execução, um ritmo mais lento e uma colher do estoicismo inglês. Aqueles que não ligam para estas liberdades e só querem ver um filme de aventura devem ficar satisfeitos, mas se você busca algo mais fidedigno a obra original, talvez a série de televisão Sherlock, produzida pela BBC, seja uma indicação melhor para esse início de ano.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle


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