Divagações: Hancock
8.3.12
Os filmes de super-heróis representam uma parcela inquestionável da
rotina dos lançamentos cinematográficos. Já acabou a época onde se questionava
a capacidade de sobrevivência do ‘gênero’ e como seria possível manter o apelo
dos filmes. Diferentes abordagens, grandes autores, diretores criativos,
efeitos especiais avançados e outros fatores fizeram com que percebêssemos que
o fato do protagonista ser um super-herói não diminui sua humanidade (exceto
quando ele é um extraterrestre, mas isso não vem ao caso). A verdade é que um
bom filme precisa, acima de tudo, de uma trama de qualidade e personagens bem
desenvolvidos – com isso, é possível criar (e lucrar) infinitamente.
Ao mesmo tempo, não podemos esperar que esses filmes e personagens estejam
livres de defeitos e clichês, elementos que sempre podem (e devem) ser
questionados. Em Hancock, por exemplo, temos um filme de super-herói que se autoquestiona e
tenta desconstruir um pouco daquilo que já nos acostumamos a absorver com
naturalidade.
John Hancock (Will Smith)
é um cara com superpoderes. No entanto, isso não facilita sua vida, já que as
pessoas reclamam constantemente das coisas que saíram errado durante suas
tentativas de ajudar. Assim, ele se tornou um viciado em álcool com tendências
um tanto destrutivas, mesmo que com boas intenções. Em um desses episódios, ele
salva a vida de Ray
(Jason Bateman),
um publicitário não exatamente bem sucedido que decide mudar a imagem de
Hancock e transformá-lo em um super-herói de verdade. Contudo, por alguma
razão, sua mulher Mary (Charlize Theron) se opõe ao plano.
Embora
pareça interessante inicialmente, a trama é mal desenvolvida e o filme sai bastante
prejudicado. As relações entre os personagens se desenrolam de maneira
superficial e não chegam a convencer, especialmente quando o filme se encaminha
para a conclusão. Ou seja, era realmente uma bobagem contar a história de um
super-herói fracassado.
Bom,
não exatamente. Como as pessoas reagiriam se realmente existisse alguém tão
poderoso? Acho que nunca vi alguém reclamar que Spider-Man quebrou a janela do
apartamento ou que Batman não respeita as leis de trânsito. Eles poderiam
provocar acidentes graves, não poderiam? Hancock tenta aproximar essa
possibilidade da nossa realidade e o resultado não é bonito. Os inimigos que
ele cria não são pessoas que querem mais poder ou que planejam roubar seus
poderes, mas pessoas comuns.
Ajudado por bons efeitos especiais, o filme não é um desperdício total
do seu tempo porque tem um fator inteligente levemente escondido, mas ainda
presente. Aliás, esse elemento parece ser uma constante nos filmes de Will Smith, que acaba tendo
a ingrata tarefa de acrescentar ação (e um rostinho famoso) a materiais, a
princípio, mais sérios. Já vimos isso em I, Robot e I Am Legend, por exemplo. Como tudo precisa se enquadrar nos
padrões da indústria, isso nem é de todo ruim, já que as sementes de conteúdo
são plantadas para quem quiser achar.
De qualquer forma, Hancock acaba como um material promissor
que merece as pipocas e a galera vendo o filme em conjunto. É um filme de
super-herói um pouco diferente, mas ainda assim se encaixa ao lado de nomes
mais conhecidos. Por mais que queira balançar um pouco as coisas, o fruto ‘diferente’
continua caindo perto do pé.
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