Divagações: Hancock

Os filmes de super-heróis representam uma parcela inquestionável da rotina dos lançamentos cinematográficos. Já acabou a época onde se qu...

Os filmes de super-heróis representam uma parcela inquestionável da rotina dos lançamentos cinematográficos. Já acabou a época onde se questionava a capacidade de sobrevivência do ‘gênero’ e como seria possível manter o apelo dos filmes. Diferentes abordagens, grandes autores, diretores criativos, efeitos especiais avançados e outros fatores fizeram com que percebêssemos que o fato do protagonista ser um super-herói não diminui sua humanidade (exceto quando ele é um extraterrestre, mas isso não vem ao caso). A verdade é que um bom filme precisa, acima de tudo, de uma trama de qualidade e personagens bem desenvolvidos – com isso, é possível criar (e lucrar) infinitamente.

Ao mesmo tempo, não podemos esperar que esses filmes e personagens estejam livres de defeitos e clichês, elementos que sempre podem (e devem) ser questionados. Em Hancock, por exemplo, temos um filme de super-herói que se autoquestiona e tenta desconstruir um pouco daquilo que já nos acostumamos a absorver com naturalidade.

John Hancock (Will Smith) é um cara com superpoderes. No entanto, isso não facilita sua vida, já que as pessoas reclamam constantemente das coisas que saíram errado durante suas tentativas de ajudar. Assim, ele se tornou um viciado em álcool com tendências um tanto destrutivas, mesmo que com boas intenções. Em um desses episódios, ele salva a vida de Ray (Jason Bateman), um publicitário não exatamente bem sucedido que decide mudar a imagem de Hancock e transformá-lo em um super-herói de verdade. Contudo, por alguma razão, sua mulher Mary (Charlize Theron) se opõe ao plano.

Embora pareça interessante inicialmente, a trama é mal desenvolvida e o filme sai bastante prejudicado. As relações entre os personagens se desenrolam de maneira superficial e não chegam a convencer, especialmente quando o filme se encaminha para a conclusão. Ou seja, era realmente uma bobagem contar a história de um super-herói fracassado.

Bom, não exatamente. Como as pessoas reagiriam se realmente existisse alguém tão poderoso? Acho que nunca vi alguém reclamar que Spider-Man quebrou a janela do apartamento ou que Batman não respeita as leis de trânsito. Eles poderiam provocar acidentes graves, não poderiam? Hancock tenta aproximar essa possibilidade da nossa realidade e o resultado não é bonito. Os inimigos que ele cria não são pessoas que querem mais poder ou que planejam roubar seus poderes, mas pessoas comuns.

Ajudado por bons efeitos especiais, o filme não é um desperdício total do seu tempo porque tem um fator inteligente levemente escondido, mas ainda presente. Aliás, esse elemento parece ser uma constante nos filmes de Will Smith, que acaba tendo a ingrata tarefa de acrescentar ação (e um rostinho famoso) a materiais, a princípio, mais sérios. Já vimos isso em I, Robot e I Am Legend, por exemplo. Como tudo precisa se enquadrar nos padrões da indústria, isso nem é de todo ruim, já que as sementes de conteúdo são plantadas para quem quiser achar.

De qualquer forma, Hancock acaba como um material promissor que merece as pipocas e a galera vendo o filme em conjunto. É um filme de super-herói um pouco diferente, mas ainda assim se encaixa ao lado de nomes mais conhecidos. Por mais que queira balançar um pouco as coisas, o fruto ‘diferente’ continua caindo perto do pé.

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