Divagações: The Breakfast Club

Uma comédia de 1985, dirigida por John Hughes é capaz de garantir um ar de Sessão da Tarde para qualquer um. Felizmente, não cheguei a v...

Uma comédia de 1985, dirigida por John Hughes é capaz de garantir um ar de Sessão da Tarde para qualquer um. Felizmente, não cheguei a ver The Breakfast Club quando tinha as tardes livres para fazer o que eu bem entendesse. Digo isso porque naquela época eu talvez não apreciasse tanto um filme que se passa, basicamente, dentro de uma biblioteca e que tem como protagonistas um atleta, um nerd, um delinquente, uma menina super popular e uma maluca – todos de castigo em pleno sábado, destinados a não fazer nada desde cedo pela manhã até o final da tarde.

Passados tantos anos, no entanto, o filme ficou ainda melhor. Por mais que o mundo tenha mudado e tantas coisas sejam diferentes, o discurso de The Breakfast Club continua válido. Afinal, o filme junta cinco estereótipos da adolescência e os obriga a conviver, fazendo com que eles soltem suas mágoas, seus problemas e discutam sobre o futuro.

Andrew Clark (Emilio Estevez) é o atleta que colou as nádegas de um colega, vivendo mais a imagem que criaram dele do que quem ele realmente é. Brian Johnson (Anthony Michael Hall) é o estudioso pressionado a sempre tirar boas notas. Claire Standish (Molly Ringwald) é a rainha do baile, extremamente popular e que, no fundo, esconde sua insegurança tentando parecer superior aos demais. Allison Reynolds (Ally Sheedy) parece ser perturbada, tem atitudes estranhas e só fala quando convém. Por fim, John Bender (Judd Nelson) é aquele cara desesperado por atenção, que só denigre as regras e é todo revoltado. O professor responsável pelos alunos em detenção é Richard Vernon (Paul Gleason) e, é claro, ele e o zelador Carl (John Kapelos) correspondem a todos os clichês de adultos que vemos em filmes sobre adolescentes. Os dois simplesmente não são importantes nesse contexto.

No meio de tantos clichês, o que se vê em The Breakfast Club ganha importância por se tratar mais de um conflito entre personagens que de uma história com começo meio e fim. Ou seja, o filme tem a estrutura de uma peça teatral e foi ensaiado como tal. John Hughes incentivou a espontaneidade e aproveitou a improvisação dos atores, que estavam mais frescos na temática (ainda que apenas Molly Ringwald e Anthony Michael Hall tivessem idade para frequentar o Ensino Médio).

O resultado é mais sério que engraçado para quem se importa com o futuro. Esses jovens já estão no comando do mundo e a situação não está nem um pouco melhor. Mesmo que atualmente se fale tanto sobre tecnologia, geração X e geração Y, as angústias continuam as mesmas, assim como a opressão, a vontade de mudar o mundo e o desespero de saber que, quando chegar a hora de agir, os jovens irão mudar e tudo vai permanecer praticamente do mesmo jeito. Os anos passam e os pais sempre criticam os filhos que, em breve, se tornarão pais e acreditarão que a geração anterior era opressora e a próxima está perdida.

Obviamente, o filme não tem pretensões de ser um tratado sociológico sobre o tema. Pelo contrário, é apenas mais uma comédia de Hollywood. Ainda assim, ao final, essa se torna uma experiência interessante para todas as idades. Os pais podem se lembrar de quando eram filhos. Os jovens que estão saindo da adolescência percebem que não podem perder sua essência. Já os alunos do Ensino Médio (e até os mais jovens) podem ver a si mesmos e aos colegas retratados com as mesmas roupas horríveis das fotos que encontraram no fundo do baú – o que também pode ser um pouco chocante.

Dessa forma, para fechar esse texto, segue a mesma frase que abre The Breakfast Club: "And these children that you spit on as they try to change their worlds; are immune to your consultations, they are quite aware of what they are going through" (David Bowie).

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