Divagações: Total Recall
16.8.12
Gostando ou não, Total Recall – o original, de 1990 – foi um dos filmes mais significativos daquela década, trabalhando bem com a temática de ficção científica que estava na moda, apresentando uma história intrigante e apostando alto em um dos atores mais badalados da época, o famoso Arnold Schwarzenegger. Assim, fui mais um daqueles que simplesmente não via a necessidade de se refazer aquilo que estava perfeitamente bom do jeito que estava e, acredite, mesmo que os produtores digam que esta é uma adaptação mais fiel do livro de Philip K. Dick, todos nós sabemos que a intenção era repetir o sucesso do filme do ‘governator’.
Uma rápida olhadela já comprova que muita coisa mudou desde o filme anterior. Douglas Quaid (Colin Farrell) continua sendo um trabalhador industrial frustrado, um pouco atormentado pelos seus sonhos com a enigmática Melina (Jessica Biel). Porém, saem Marte e os mutantes e entra um conflito geopolítico um pouco mais palpável, entre a Federação Unida da Bretanha e sua colônia na Austrália. Quaid vive sua vidinha de sempre ao lado de sua esposa Lori (Kate Beckinsale), mas o tédio e a busca de um pouco de emoção o levam para a Rekall, uma empresa que implanta memórias falsas. Ele, no entanto, encontra bem mais do que procurava quando aparentemente o procedimento dá errado. Quaid, então, se vê em meio a uma trama de intrigas políticas e espionagem, ao mesmo tempo em que busca saber quem realmente é.
Infelizmente, vejo em Total Recall muito potencial desperdiçado. É claro que não esperava por um grande clássico, mas o filme tinha na trama todas as ferramentas para transformar uma história de ação vazia em algo a mais. Questionamentos como o que é a realidade e o que é uma memória são colocados em voga em uma ou duas cenas, mas dificilmente conseguem incentivar a curiosidade do expectador. Mesmo assim, a ambientação é muito boa e o clima futurista é verossímil o suficiente para conseguir transmitir a situação. Esse, certamente, é um dos pontos fortes do filme.
Também preciso dizer que não tenho nada contra Colin Farrell, porém acho que falta a ele um pouco de flexibilidade dramática. O filme teria se beneficiado de um pouco mais de conflito interno, já que o protagonista às vezes parece um pouco indiferente demais a sua situação. As cenas de ação, por sua vez, são interessantes e contêm várias perseguições. Diversas situações atraentes se aproveitam do ambiente, mas não há nada de especialmente empolgante já que é difícil se conectar ou torcer pelos personagens.
Assim, Total Recall falha em repetir a fórmula que tornou o primeiro filme bem sucedido, uma vez que, em meio a todos os ‘filmes de ação com conteúdo’ que tivemos ultimamente, é difícil encontrar algum elemento original que efetivamente surpreenda. Contudo, apesar de meio tedioso em alguns momentos, esse não é um filme ruim e vale para saciar a curiosidade daqueles que querem ver a repaginada dada ao material original. Também é valido para quem simplesmente gosta de ver perseguições, tiroteios e lutas bem executadas, mesmo que, no final das contas, Total Recall não seja um filme que vai ficar na memória de ninguém.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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