Divagações: Argo

Abrindo a temporada brasileira de grandes filmes para um Oscar que pessoalmente não promete muito, Argo  chega aos cinemas com a importan...

Abrindo a temporada brasileira de grandes filmes para um Oscar que pessoalmente não promete muito, Argo chega aos cinemas com a importante tarefa de deixar uma boa impressão e de resgatar a carreira de ator de Ben Affleck, que não tem entusiasmado muito nos últimos tempos.  Apesar do aparente cinismo, não consegui deixar as expectativas de lado, afinal , é difícil não se empolgar com um filme que mistura tensões políticas, espionagem e uma dose do humor involuntário que só o absurdo da própria vida pode proporcionar.

Em 1979, o Irã sofria uma das mais graves crises de sua história moderna. Antes, um país liberal e influenciado pelo imperialismo americano, o Irã teve seu governo deposto e os habitantes viram se erguer um estado tradicionalista e religioso, rechaçando o ‘grande demônio’ dos Estados Unidos. Com a intensificação da crise, diversos funcionários consulares ficaram presos em embaixadas, nas mãos do exército revolucionário, porém, um pequeno grupo de estadunidenses conseguiu fugir em segredo para a casa do embaixador do Canadá, Ken Taylor (Victor Garber). O governo dos Estados Unidos, esperando o pior, contata a CIA para realizar o resgate, colocando a missão nas mãos do agente Tony Mendez (Ben Affleck, também o diretor), que arrisca tudo ao propor disfarçar a operação como a produção de um filme de ficção cientifica. Para isso, ele conta com a ajuda do proteticista John Chambers (John Goodman) e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin), já que, para enganar o governo iraniano, era preciso antes de mais nada enganar a própria Hollywood.

Durante o filme fica claro o capricho e o cuidado técnico empregados em Argo, sobretudo na composição do cenário, na caracterização dos personagens e na ambientação da época, fator que fica mais evidente quando vemos as comparações entre o filme e a realidade mostrada durante os créditos. A fotografia, a edição e até mesmo as técnicas de filmagem colaboram para ressaltar não apenas a atmosfera opressiva do Irã de 1980, mas também o ambiente da indústria cultural americana da época, com seus conflitos e discussões políticas em constante choque.

Apesar de toda a tentativa de trazer verossimilhança, no entanto, são várias as liberdades de roteiro apresentadas, já que mesmo uma boa história às vezes precisa de uma dose de romantismo. O resultado é bastante competente, transformando todo o filme em um suspense de alta tensão onde tudo pode descambar para a tragédia a qualquer momento. Isso é o suficiente para deixar qualquer um na ponta da cadeira, preocupado com o destino dos protagonistas.

Contudo, é nestes mesmos protagonistas que se encontra a maior fraqueza do filme. Faltou explorar os personagens de modo a os trazer para mais perto dos espectadores, já que em momento algum sentimos que conhecemos ou nos importamos verdadeiramente com algum dos fugitivos. Apesar de existir alguma empatia, não posso dizer que consegui me conectar emocionalmente com nenhum deles e isso me incomoda um pouco.

De todo modo, Argo é um filme que esbanja competência. Com boas tiradas quando é preciso, momentos de tensão bem encaixados e direção e produção eficientes, certamente, esse é um dos favoritos para o Oscar até o momento. Para quem gosta de um enfoque mais realista na espionagem ou vem sentindo falta de um filme mais denso para ver nos cinemas, Argo tem tudo para agradar, sobretudo em uma época de lançamentos fracos e sem muitas novidades.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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