Divagações: The Rum Diary

Como jornalista, eu me considero suspeita para tratar de um filme como The Rum Diary , pois imagino ter um conhecimento inicial do assunt...

Como jornalista, eu me considero suspeita para tratar de um filme como The Rum Diary, pois imagino ter um conhecimento inicial do assunto um pouco maior que o do público em geral. Não que a obra de Hunter S. Thompson tenha sido exatamente muito estudada durante o curso (afinal, ele não usava metodologias recomendadas pela academia), mas é uma sensação diferente quando uma obra trata sobre a sua profissão.

De qualquer modo, não estamos falando de uma obra jornalística. Trata-se de uma adaptação de um texto já romantizado que Johnny Depp encontrou nos baús do escritor durante suas pesquisas para Fear and Loathing in Las Vegas. Desde aquele primeiro contato, houve a vontade de transformar o material em filme e, depois de muitas idas e vindas (o que inclui a morte do autor), eis que The Rum Diary é lançado sem muito barulho.

A história se passa na década de 1960 e acompanha um jovem jornalista com problemas com a bebida chamado Kemp (Johnny Depp). Ele consegue um emprego em um jornal decadente de Porto Rico, dirigido pelo desiludido Lotterman (Richard Jenkins), onde faz amizade com o fotógrafo Sala (Michael Rispoli) e outro repórter bêbado, Moberg (Giovanni Ribisi). Aos poucos, no entanto, ele se envolve com um ricaço da região, Sanderson (Aaron Eckhart), e sua bela mulher, Chenault (Amber Heard).

O grande ‘lance’ de The Rum Diary é lidar com um protagonista pouco confiável, de origem duvidosa, com péssimos hábitos, viciado em álcool e curioso para experimentar novas drogas (algo que Hunter S. Thompson acabou fazendo bastante no decorrer da vida). Afinal, ao mesmo tempo em que parece crítico em relação ao que o cerca, acaba se deixando envolver, principalmente quando há dinheiro e a bela figura feminina de Chenault.

Mesmo assim, muito disso se perde com o roteiro fraco e a direção de Bruce Robinson. Por mais que ele tenha um histórico interessante e até certo ponto se identifique com o personagem, suas escolhas foram em direção ao tradicional, chegando a evitar trechos mais polêmicos do material original. Visualmente, The Rum Diary retrata bem o local e a época, mas não explora aspectos mais emocionais e raramente coloca o espectador ‘na pele’ do protagonista, evitando uma aproximação e uma possível identificação. Ou seja, em nenhum momento o filme surpreende, assusta ou provoca emoções mais fortes, de modo que apenas se assiste ao que acontece.

Embora esteja longe de representar uma grande homenagem ao homem que deu origem à história, o filme mostra um contexto político interessante, já que raramente prestamos atenção ao que acontece nas ilhas caribenhas. Além disso, a trama relacionada aos hotéis e o próprio final ficam um pouco no ar, dando a sensação de que tudo permanece mais ou menos da mesma maneira.

Para completar há ainda as boas atuações – com destaque para Amber Heard e Giovanni Ribisi – que garantem a credibilidade da obra. Por mais que critiquem seus trejeitos, Johnny Depp atua com comprometimento e o resultado é um retrato tão respeitoso quanto dúbio, se é que isso é possível. The Rum Diary poderia (e deveria) ser imprevisível, mas não deixa de ter suas qualidades, só é preciso procurar um pouco.

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