Divagações: Trouble with the Curve

Quando Clint Eastwood anunciou que voltaria da sua aposentadoria como ator, não consegui deixar de ter grandes expectativas, afinal, par...

Quando Clint Eastwood anunciou que voltaria da sua aposentadoria como ator, não consegui deixar de ter grandes expectativas, afinal, para ele ter feito algo assim, o roteiro não poderia ser menos do que bom.  Além disso, se tratava da estreia em carreira solo de Robert Lorenz, braço direito (vulgo, diretor assistente) de Eastwood em filmes como Million Dollar Baby

Em Trouble with the Curve, Gus Loebel (Clint Eastwood) é um olheiro de baseball, daqueles que ainda gosta de fazer as coisas à moda antiga, sem a ajuda de toda a tecnologia que mudou o jogo nos últimos anos. Porém, é complicado se manter na mentalidade de décadas atrás quando os resultados ficam abaixo do esperado e a própria idade começa a pesar. Quando é dada uma última chance para Gus mostrar o seu valor como olheiro, seu grande amigo Pete Klein (John Goodman) providencia para que a filha de Gus, Mickey (Amy Adams), com a qual ele nunca se deu muito bem, o acompanhe na viagem. Isso dá aos dois a chance de mudar não só a relação entre eles, mas toda a filosofia de vida de ambos.

O roteiro por si só não é nada demais, apenas mais uma história edificante no meio de tantas outras. Abusando de clichês do gênero e de desenvolvimentos óbvios, esse não é o filme de quem procura grandes surpresas. Assim, qualquer pessoa com o mínimo de bagagem consegue ver com clareza para onde a história quer te levar, embora caiba a cada um deixar o ceticismo de lado e se deixar conduzir, afinal, este não é o tipo de filme que dá para se assistir sem uma dose generosa de boa vontade.

De qualquer modo, filmes sobre esportes nunca foram um filão de muito sucesso pelas terras tupiniquins, sobretudo quando se trata de baseball, que talvez seja o esporte estadunidense mais incompreensível para nós, acostumamos a jogos sem nenhuma complicação. Consequentemente, não sinto que podemos nos identificar com a paixão pelo jogo e por todo o estilo de vida que ele representa, algo que é muito explícito nos personagens. 

Apesar disso, não sinto que essa característica represente um demérito, pois Trouble with the Curve é, basicamente, um filme sobre o fator humano. A história trata sobre a maneira como estabelecemos as nossas relações e é nesse ponto que devemos focar as atenções. Quanto a esse aspecto, o filme é indicado principalmente para quem gostou de Moneyball, para o qual é quase um contraponto natural – ou, ao menos, uma crítica sutil.

Pensando por esse lado, não há o que se criticar. Toda a relação entre os personagens é muito bem trabalhada pelos atores, que tem uma química muito boa em cena. Até mesmo Justin Timberlake, cuja atuação é sempre tão questionada, não faz feio em frente aos grandes nomes do elenco. Por mais que o enredo central do filme não seja exatamente a linha de chegada, vemos o caminho que leva até ela, com o aprendizado e a transformação dos protagonistas, além da nossa descoberta de que há mais camadas em cada um do que presumimos no início.

Dessa maneira, Trouble with the Curve se mostra um filme interessante, divertido e que nos coloca em posição de reflexão. Não é um filme imperdível, mas cumpre muito bem o seu papel. Mesmo que narrativamente não tenha a curva anunciada pelo título, esta é uma viagem em linha reta na qual você pode se sentar e parar para apreciar: rindo, se empolgando e se emocionando. Caso essa seja a saída de Clint Eastwood das telas, por mais que não tenha o impacto de Gran Torino, será uma despedida digna.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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