Divagações: Django Unchained

Depois de ter recebido o Globo de Ouro de Melhor Roteiro e o de Melhor Ator Coadjuvante , Django Unchained estreia no Brasil na próxima ...

Depois de ter recebido o Globo de Ouro de Melhor Roteiro e o de Melhor Ator Coadjuvante, Django Unchained estreia no Brasil na próxima sexta-feira. O filme recebeu cinco indicações ao Oscar, mas não é esse seu maior apelo. O que realmente importa é o fato dele ser o mais novo filme de Quentin Tarantino. Os fãs do cineasta irão assistir a qualquer coisa que ele ouse colocar na tela, enquanto seus críticos irão reclamar da quantidade excessiva de sangue gratuito.

Ao filme! Dr. King Schultz (Christoph Waltz) é um caçador de recompensas que prefere entregar à justiça os bandidos mortos ao invés de vivos. Para ir atrás de alguns criminosos, ele compra Django (Jamie Foxx), um escravo que trabalhou na fazenda onde eles eram feitores. Os dois acabam se tornando amigos e Schultz parte com Django para libertar a mulher dele, Broomhilda (Kerry Washington), das mãos do fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) e de seu escravo de confiança, Stephen (Samuel L. Jackson).

Como um estranho western passado no sul, Django Unchained explora a escravidão e o preconceito com humor, pouco respeito aos fatos históricos e uma linguagem que apenas Tarantino teria coragem de usar. É algo bem diferente do que estamos acostumados a relacionar com o gênero e isso é positivo em muitos aspectos, uma vez que faroestes não são exatamente populares nos dias de hoje. Embora todo ano surjam uma ou duas produções, elas dificilmente conseguem cativar tanto quanto o que é esperado para esse filmes.

Uma das principais características nesse sentido é a trilha sonora, algo que o diretor sempre escolhe com muita atenção. As músicas não são da época (dificilmente são, admitam), mas elas têm ritmos bem marcados e letras espertas, proporcionando ares mais modernos e ‘descolados’ para a produção – sem deixar de homenagear Ennio Morricone. É impossível deixar de torcer por personagens que andam a cavalo embalados por canções assim. Sério!

Outro ponto importante do filme é que uma das principais lições que Django aprende é nunca sair do personagem combinado entre ele e seu companheiro. Assim, ele é apresentado como um cara legal e ganha a confiança do espectador. Depois, ele passa a merecer uma indicação ao Oscar por interpretar o negro livre mais intrometido, respondão, independente e cruel do Texas. A motivação romântica de tamanha escrotidão também é digna de simpatia – e Kerry Washington vale a pena.

Além disso, não há preocupação aparente em diminuir a classificação etária, de modo que há muito tiroteio e pessoas explodem como se fossem gelatinas recheadas de sangue (tentei pensar em uma metáfora melhor, mas não consegui). Como se isso não fosse o suficiente, há uma cena de nudez masculina com ângulos pouco usuais. Para quem tem pavor de cachorros (como eu) também existe uma cena um pouco pesada (cuidado com flashbacks). Só não vale esperar por lutas corpo-a-corpo, pois estamos realmente falando de um western.

É curioso pensar como, no final das contas, isso é absolutamente divertido! Ao assistor Django Unchained, você irá rir de comportamentos que (agora) não são moralmente aceitáveis, de reuniões da KKK e de trocas de ideias absurdas. Você vai se envolver com personagens bem escritos, mesmo que eles não sejam necessariamente boas pessoas. 

Sob certo ponto de vista, isso pode até parecer horrível, mas proporciona algum tipo de prazer na criatura humana que você é. São 165 minutos longos, tensos, cômicos e trágicos. Ao final, pode até parecer que você perdeu boa parte do seu dia trancado em uma sala de cinema. Ainda assim, vai ficar com vontade de mais, passar na locadora e sair com uma pilha de filmes do Tarantino. Ninguém faz cinema como esse cara!

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