Divagações: The Graduate

A juventude é uma fase da vida repleta de incertezas. Vejamos, por exemplo, o caso de Ben Braddock ( Dustin Hoffman ). Além de ser inter...

A juventude é uma fase da vida repleta de incertezas. Vejamos, por exemplo, o caso de Ben Braddock (Dustin Hoffman). Além de ser interpretado por um ator de 30 anos, esse jovem que está prestes a completar 21 precisa abandonar de vez a adolescência e ingressar na vida adulta. Afinal, acabou de se formar – com todas as glórias, diga-se de passagem – e precisa arrumar um emprego. Seus pais já o apresentaram para todos os amigos importantes e estão até falando em casamento. O detalhe é que Ben não faz a menor ideia a respeito do que quer fazer com a sua vida.

Outra informação importante é que Ben Braddock ainda é virgem. Dessa forma, ele se torna uma presa fácil quando a esposa do sócio de seu pai, a bela Mrs. Robinson (Anne Bancroft), resolve seduzi-lo. Por um tempo, esse relacionamento o distrai e minimiza suas angústias, mas é claro que não as resolve. É nesse momento que a filha de sua amante, Elaine Robinson (Katharine Ross), volta para casa e Ben é forçado a levá-la para sair. Ele acaba se apaixonando e se descobre em uma situação realmente desagradável.

Basicamente, The Graduate é a história de um rapaz descobrindo seu caminho na vida de uma maneira um tanto quanto torta. Suas dúvidas e inseguranças são perfeitamente compreensíveis, mas ele apenas se torna um homem (e um personagem mais simpático) depois que decide o rumo que irá tomar. Aliás, é perfeitamente possível dividir o filme em antes e depois da ‘grande decisão’.

Antes da decisão, o diretor Mike Nichols estava lidando com uma história bem polêmica para o ano de 1967. Na verdade, o relacionamento somente sexual entre uma mulher casada e um jovem com a idade para ser seu filho seria um assunto delicado até mesmo para os dias de hoje. De qualquer modo, a solução encontrada foi caprichar nos ângulos e não mostrar nada além de um bronzeado provocante e um umbigo (nesse caso, piscou perdeu). Embora possam parecer um pouco antiquadas, essas sequências continuam divertidas e já valem por todo o filme. Não é a toa que, em seu segundo filme, Nichols tenha conquistado sua segunda indicação ao Oscar e seu primeiro prêmio – além do salário de um milhão de dólares.

Já no segundo momento do filme, temos uma história bem mais convencional. Isso diminui um pouco a tensão e permite que o espectador se divirta até o final da exibição. Dustin Hoffman persegue pessoas, é inconveniente no ônibus, dirige igual a um maluco, briga com o senhorio, tenta se passar por padre e corre desesperadamente. Um atrapalhado de mão cheia. Toda aquela gentarada do começo do filme sai para dar lugar a um jovem que sabe o que quer, mesmo que tenha dificuldades para alcançar seu objetivo.

Baseado em uma peça de teatro, The Graduate em nenhum momento é claustrofóbico. Ao contrário do que acontece em Who's Afraid of Virginia Woolf?, que também é dirigido por Nichols e se passa quase que integralmente em uma sala de estar, esse filme é beneficiado com mudanças constantes de cenário e um carro vermelho que se move rapidamente. Há todo um mundo pressionando o protagonista para seguir em frente e o fazendo parecer constantemente na contramão.

Quem tem medo de filmes velhos pode não ter muita vontade de assistir a esse, mas os interessados no cenário musical da década de 1960 talvez devam colocar os ouvidos para apreciar a trilha sonora. A presença de Simon & Garfunkel foi uma exigência do diretor e ela é essencial para o clima juvenil e de choque de gerações presente em The Graduate. As músicas representam o toque final que deixa tudo perfeito. Ousaria dizer que são até mais interessantes que o umbigo de Mrs. Robinson.

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