Divagações: Hercules

Quando eu tinha dez anos, digamos que não estava em uma fase muito Disney . O lançamento de Hercules passou por mim quase sem ser perceb...

Quando eu tinha dez anos, digamos que não estava em uma fase muito Disney. O lançamento de Hercules passou por mim quase sem ser percebido e só tive um contato maior quando minha professora resolveu que a turma dançaria uma das canções do filme na apresentação de final de ano. O figurino e a coreografia acabaram me afastando ainda mais da produção.

Depois de um tempo, claro, percebi que havia um buraco considerável no meu repertório de animações, mas Hercules não é um dos desenhos mais populares do estúdio. Assim, demorei a dar a merecida chance. Em alguns aspectos isso foi bom: meus conhecimentos de mitologia aumentaram, passei a gostar mais de cinema e é interessante assistir a algo que não é um lançamento sem saber exatamente o que esperar.

Nessa adaptação, Hercules (Tate Donovan) é filho de Zeus (Rip Torn) e Hera (Samantha Eggar). Após seu nascimento, é realizada uma festa no Olimpo, mas Hades (James Woods) não é convidado. Como se isso não bastasse para irritar o deus do submundo, uma profecia diz que Hercules é o único capaz de acabar com um plano maligno que ele vem planejando a certo tempo. Dessa forma, ele tenta transformar o bebê em um mero mortal e matá-lo, mas a criança não bebe a última gota da poção, mantendo sua força fenomenal. Ao descobrir sobre sua origem, Hercules parte em busca de treinamento com o sátiro Philoctetes (Danny DeVito) e acaba tendo uma quedinha pela misteriosa Meg (Susan Egan).

De maneira geral, a fidelidade aos mitos é pequena, mas é feito um grande número de referências a diversas histórias, o que indica que foi mantido algum respeito pelo material original. Obviamente, eu não esperava ver uma traição conjugal em um filme da Disney, então deuses com personalidades relativamente calmas e benevolentes entraram no mesmo pacote. Só espero que isso não confunda a cabeça das crianças que quiserem se aprofundar nos estudos dos mitos.

Como filme, Hercules segue a fórmula dos contos de fadas, ainda que o material tenha uma origem diferenciada. Isso não chega a incomodar quem gosta do gênero, além de ser levemente atenuado pelo protagonista masculino completamente capaz de resolver essas questões por si mesmo – vamos combinar que não precisar esperar por um príncipe é uma grande vantagem. É como se a princesa desse lugar a um super-heroi. Além disso, Meg também é uma personagem interessante, com um passado que é explicado no decorrer do filme.

Outro aspecto que deve ser apontado é a animação estilizada, que não procura pelo absoluto realismo, como acontece em muitas produções do estúdio, mas opta por uma estilização da arte grega, com direito a peitorais exagerados, narizes pontudos e orelhas em espiral. O mérito desse trabalho é, em grande parte, do ilustrador Gerald Scarfe, mais conhecido por seus trabalhos com a banda Pink Floyd. Ele desenvolveu o design de praticamente todos os personagens!

Esse estilo de animação combinou muito com a forma como a narrativa foi elaborada, contando com a aparição ocasional de musas que saem de vasos, ocupam o lugar de colunas e cantam os acontecimentos. Repleto de músicas e muito colorido, Hercules conquista facilmente as crianças e ganha um lugar próprio no panteão de filmes da Disney. Pode não ser o lugar mais alto e especial, mas é muito merecido. Até o momento, não há ninguém que consiga competir de igual para igual com ele.

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