Divagações: Who's Afraid of Virginia Woolf?
1.8.13
Baseado em uma peça de teatro, Who's Afraid of Virginia Woolf? tem muito diálogo, poucos personagens e quase nada efetivamente acontecendo. Por datar de 1966 e ser em preto e branco, o filme poderia estar esquecido em prateleiras empoeiradas. Ainda assim, ele é constantemente lembrado como um dos melhores trabalhos de Elizabeth Taylor. Acrescente a isso a informação de que essa é a estreia de Mike Nichols como diretor de cinema, sendo que depois ele também seria responsável por obras como The Graduate, The Birdcage e Closer.
Sem se preocupar em esconder suas origens teatrais, embora apresente uma razoável variação de cenários, o filme conta uma história passada durante uma madrugada em claro. Martha (Elizabeth Taylor) e George (Richard Burton) chegam bêbados em casa após uma festa oferecida pelo pai dela, que também é o dono da universidade em que George trabalha. Embora estejam esgotados, eles precisam arrumar o ambiente para a chegada de convidados que não são exatamente bem-vindos: Nick (George Segal), um professor recém-contratado pela instituição, e sua esposa Honey (Sandy Dennis). Como todos já beberam um pouco além da conta e não parecem com vontade de parar, não demora para que dramas pessoais venham à tona e prejudiquem ainda mais o encontro, especialmente quando os assuntos são filhos ou o casamento.
Ao longo da noite, conversas íntimas e situações constrangedoras se intercalam, permitindo que o espectador descubra aos poucos a natureza de cada personagem. Nick e Honey entram na casa com o desconforto de recém-chegados, mas acabam se envolvendo com o drama dos anfitriões porque tem interesses e, de certo modo, se identificam com os problemas. Embora estejam em uma disputa constante, Martha e George parecem se amar mutuamente e os mistérios dessa relação são revelados em pequenas doses até o final desconcertante.
Aliás, um ponto bastante interessante de Who's Afraid of Virginia Woolf? são os jogos irônicos constantemente propostos pelos protagonistas. Eles servem para confundir, machucar e esclarecer ao mesmo tempo, tendo uma importância crescente ao longo da narrativa. Quem prestar atenção pode acabar desvendo certos elementos antes mesmo dos personagens jogarem tudo para o alto e começarem a revelar seus segredos mais íntimos.
Um fato bem divulgado é que o filme gastou boa parte de seu orçamento com o salário dos atores, mas acredito que valeu a pena pelo resultado final. Era preciso conferir uma grande carga de dramática a todos os personagens e, por mais que pareçam loucos em alguns momentos, eles deveriam ser bêbados críveis e racionais. Indicado ao Oscar em todas as categorias onde poderia concorrer (o que inclui todos os quatro nomes do elenco), Who's Afraid of Virginia Woolf? conquistou cinco prêmios: Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Decoração de Cenário em Preto e Branco e Melhor Figurino em Preto e Branco.
A propósito, a fotografia às vezes um pouco escura demais, mas com um contraste forte na maior parte do tempo confere uma atmosfera própria ao filme, que abusa dos close-ups para mostrar a emoção no rosto dos atores. A discussão ao ar livre entre Martha e George conta com a luz dos postes de uma rodovia como único cenário em uma noite, de outra forma, completamente escura.
Li em algum lugar que Who's Afraid of Virginia Woolf? é sobre o que acontece quando há muito álcool e pouco respeito. No entanto, esse é apenas o gatilho para algo que já estava prestes a acontecer. O filme traz duas pessoas que chegaram há algum tempo ao limite de uma fase em seu relacionamento, de modo que tudo precisa mudar o quanto antes. É uma amostra do que acontece quando se coloca coisas grandes demais debaixo do tapete.
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