Divagações: The Departed

Desde que li Conversas com Scorsese estou com vontade de ver ou rever todos os filmes do diretor. Assim, acabei aproveitando uma oportun...

Desde que li Conversas com Scorsese estou com vontade de ver ou rever todos os filmes do diretor. Assim, acabei aproveitando uma oportunidade – um tanto quanto inesperada, é verdade – para assistir novamente a The Departed. Lembro-me de ter ido ao cinema para ver o filme, mas isso foi em 2006, de modo que minha péssima memória permitiu que eu ficasse novamente surpresa a cada cena.

The Departed é uma adaptação do chinês Mou gaan dou (embora Martin Scorsese tenha se recusado a ver o filme) e conta a história de dois homens que estão infiltrados. Colin Sullivan (Matt Damon) é um dos queridinhos do chefe da máfia Frank Costello (Jack Nicholson) e está atuando como informante dos criminosos dentro da polícia. Por sua vez, Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) é o policial disfarçado em meio aos bandidos. Com o tempo, a missão dos dois acaba sendo a mesma: descobrir o outro antes de ser descoberto.

Como acontece em qualquer filme de Scorsese, The Departed inclui um número incrível de homenagens, mas nenhuma delas chega a se destacar ou a atrapalhar a história. Os mais atentos podem captar referências ao Scarface de Howard Hawks, mas a verdade é que se trata de uma verdadeira homenagem aos filmes de bandidos.

A presença de Jack Nicholson também ajuda muito nesse caso, pois garante a credibilidade que os dois jovens protagonistas ainda não eram capazes de alcançar totalmente. Assim, o ator recebeu total liberdade e muitas de suas cenas foram improvisadas, resultando em momentos de alívio cômico (o consolo no cinema pornô e a cocaína sendo jogada em prostitutas) ou falas marcantes (“I smell a rat”).

Cheio de bons momentos, o filme não tem a reviravolta que alguns poderiam esperar, seguindo seu ritmo de forma natural. Isso, contudo, não quer dizer que falte emoção! Há diversas cenas agoniantes, daquelas que deixam o espectador sentado na pontinha da cadeira. Para isso, o filme também abusa de vários coadjuvantes marcantes, como o ‘tira malvado’ Dignam (Mark Wahlberg), o policial bonachão Ellerby (Alec Baldwin), o assassino frio French (Ray Winstone) e até a equilibrada psicóloga Madolyn (Vera Farmiga), que se torna o interesse romântico dos dois infiltrados.

Aliás, um dos grandes méritos do filme é deixar claro que ninguém é confiável. Até o último momento, praticamente qualquer coisa pode acontecer – e é exatamente isso o que se vê na tela. Não é à toa que o filme está listado (pelo menos até a data em que esse texto foi concluído) entre os 50 melhores filmes de todos os tempos pelo Internet Movie DataBase (IMDb).

Além disso, o filme também fez sucesso no Oscar daquele ano, garantindo prêmios na categoria de Melhor Filme, Melhor Direção (o único de Martin Scorsese até hoje), Melhor Edição (para a eterna parceira do diretor, Thelma Schoonmaker) e Melhor Roteiro Adaptado (William Monahan), isso sem contar a indicação de Melhor Ator Coadjuvante para Mark Wahlberg. Reza a lenda que Leonardo DiCaprio se recusou a fazer campanha para a categoria de Melhor Ator, de modo que o estúdio decidiu não favorecer ninguém.

O melhor, no entanto, é esquecer esses reconhecimentos e simplesmente assistir ao filme pelo que ele é. The Departed conta com uma trama muito interessante e bem intricada, além de um elenco extremamente competente e um diretor que sabe com o que está lidando. Chega a ser difícil parar de elogiar.

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