Divagações: The Departed
1.10.13
Desde que li Conversas com Scorsese estou com vontade de ver ou rever todos os filmes do diretor. Assim, acabei aproveitando uma oportunidade – um tanto quanto inesperada, é verdade – para assistir novamente a The Departed. Lembro-me de ter ido ao cinema para ver o filme, mas isso foi em 2006, de modo que minha péssima memória permitiu que eu ficasse novamente surpresa a cada cena.
The Departed é uma adaptação do chinês Mou gaan dou (embora Martin Scorsese tenha se recusado a ver o filme) e conta a história de dois homens que estão infiltrados. Colin Sullivan (Matt Damon) é um dos queridinhos do chefe da máfia Frank Costello (Jack Nicholson) e está atuando como informante dos criminosos dentro da polícia. Por sua vez, Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) é o policial disfarçado em meio aos bandidos. Com o tempo, a missão dos dois acaba sendo a mesma: descobrir o outro antes de ser descoberto.
Como acontece em qualquer filme de Scorsese, The Departed inclui um número incrível de homenagens, mas nenhuma delas chega a se destacar ou a atrapalhar a história. Os mais atentos podem captar referências ao Scarface de Howard Hawks, mas a verdade é que se trata de uma verdadeira homenagem aos filmes de bandidos.
A presença de Jack Nicholson também ajuda muito nesse caso, pois garante a credibilidade que os dois jovens protagonistas ainda não eram capazes de alcançar totalmente. Assim, o ator recebeu total liberdade e muitas de suas cenas foram improvisadas, resultando em momentos de alívio cômico (o consolo no cinema pornô e a cocaína sendo jogada em prostitutas) ou falas marcantes (“I smell a rat”).
Cheio de bons momentos, o filme não tem a reviravolta que alguns poderiam esperar, seguindo seu ritmo de forma natural. Isso, contudo, não quer dizer que falte emoção! Há diversas cenas agoniantes, daquelas que deixam o espectador sentado na pontinha da cadeira. Para isso, o filme também abusa de vários coadjuvantes marcantes, como o ‘tira malvado’ Dignam (Mark Wahlberg), o policial bonachão Ellerby (Alec Baldwin), o assassino frio French (Ray Winstone) e até a equilibrada psicóloga Madolyn (Vera Farmiga), que se torna o interesse romântico dos dois infiltrados.
Aliás, um dos grandes méritos do filme é deixar claro que ninguém é confiável. Até o último momento, praticamente qualquer coisa pode acontecer – e é exatamente isso o que se vê na tela. Não é à toa que o filme está listado (pelo menos até a data em que esse texto foi concluído) entre os 50 melhores filmes de todos os tempos pelo Internet Movie DataBase (IMDb).
Além disso, o filme também fez sucesso no Oscar daquele ano, garantindo prêmios na categoria de Melhor Filme, Melhor Direção (o único de Martin Scorsese até hoje), Melhor Edição (para a eterna parceira do diretor, Thelma Schoonmaker) e Melhor Roteiro Adaptado (William Monahan), isso sem contar a indicação de Melhor Ator Coadjuvante para Mark Wahlberg. Reza a lenda que Leonardo DiCaprio se recusou a fazer campanha para a categoria de Melhor Ator, de modo que o estúdio decidiu não favorecer ninguém.
O melhor, no entanto, é esquecer esses reconhecimentos e simplesmente assistir ao filme pelo que ele é. The Departed conta com uma trama muito interessante e bem intricada, além de um elenco extremamente competente e um diretor que sabe com o que está lidando. Chega a ser difícil parar de elogiar.
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