Divagações: Gravity

Gravity é um desses filmes coringas que surgem de tempos em tempos, aquele tipo de projeto incrivelmente ambicioso e colossal que aparec...

Gravity é um desses filmes coringas que surgem de tempos em tempos, aquele tipo de projeto incrivelmente ambicioso e colossal que aparece de repente e tem o potencial de mudar totalmente as regras do cinema ou de afundar sobre o peso das próprias pretensões. Vou dizer que não saiba bem o que esperar, afinal, o conceito de dois astronautas à deriva no espaço não parecia lá muito empolgante, mas felizmente eu estava enganado – e como!

Durante o conserto de rotina um telescópio espacial, a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock) e o astronauta veterano Matt Kowalsky (George Clooney) se deparam com uma situação de imenso perigo. Um satélite russo explode, causando uma chuva de fragmentos que varre tudo em seu caminho, destruindo o ônibus espacial que transportava a dupla e os colocando sozinhos no meio do espaço, sem comunicação com a Terra e sem recursos para sobreviver.

Porém, Gravity não é sobre uma grandiosa missão de resgate ou uma catástrofe que ameaça toda a humanidade. O filma trata da capacidade humana de se reinventar durante as adversidades, mesmo quando os riscos superam (e muito) as chances de sucesso. Isso apenas atesta a grande qualidade do roteiro e da direção de Alfonso Cuarón, que consegue extrapolar ao máximo um conceito muito simples, tornando um filme que poderia ser extremamente tedioso em um thriller espetacular.

O elenco (se podemos chamar assim) também colabora para o resultado. Clooney, apesar de não apresentar algo muito deferente do seu usual, convence como um veterano cheio de autoconfiança e carisma, colocando um pouco de luz em um filme quase inteiramente sombrio. Já Sandra, apesar de interpretar uma personagem falha e em certos momentos irritante, consegue cativar e, em todos os momentos, cria expectativas e preocupações.

A direção e a edição são muito compassadas, com um uso muito bom de planos abertos e imensas sequências sem nenhum corte, aumentando a fluidez e o senso de impotência e urgência que o filme tenta passar, além de fazer com que todos os 90 minutos deste filme sejam intensos e indispensáveis. A trilha sonora de Steven Price, mesmo sendo pontual, também é fundamental para criar o clima de tensão constante.

Visualmente, o filme é incrível, sobretudo em uma sala IMAX e em 3D, tendo – de longe – os melhores efeitos visuais já vistos desde Avatar e nos colocando dentro da ação como pouquíssimos outros filmes conseguiram. Na verdade, é possível até dizer que Gravity é um divisor de águas quando percebemos como as novas tecnologias conseguem retratar com verossimilhança um filme que é completamente impraticável de ser filmado no mundo real.

Mesmo com algumas falhas de roteiro (e das leis da física!), não há como deixar de indicar Gravity, especialmente se você tiver a oportunidade de assistir em uma tela grande, já que a qualidade de áudio e de vídeo é fundamental para se conseguir toda a imersão o filme merece. Deste modo, o filme representa uma excelente experiência cinematográfica em um ano repleto de filmes que simplesmente ‘não chegaram lá’, despontando como um daqueles raros filmes bem acabados e bem pensados, que conseguem ser ao mesmo tempo enxutos e cheios de conteúdo.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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