Divagações: Per un Pugno di Dollari

É estranho pensar nisso, mas uma quantidade considerável de westerns (ou faroestes) foram filmados na Itália. O diretor desse filme, Serg...

É estranho pensar nisso, mas uma quantidade considerável de westerns (ou faroestes) foram filmados na Itália. O diretor desse filme, Sergio Leone, sem dúvida é um dos nomes mais lembrados quando o assunto são os chamados ‘spaghetti western’, mas já existiam cerca de 25 similares quando Per un Pugno di Dollari foi filmado. Considerado um gênero tipicamente estadunidense, os westerns continuaram tendo suas aventuras passadas em território americano, mas com paisagens levemente alteradas.

Nesse contexto, a presença de Clint Eastwood (que naquele período estava proibido de filmar nos Estados Unidos devido a um contrato) deve ter ajudado a produção a evitar diversos pequenos equívocos culturais. O que não muda o fato de que se trata de uma produção barata, com um roteiro descaradamente copiado, cheia de furos e brilhante em suas decisões criativas. O maior destaque, claro, vai para a música de Ennio Morricone.

Per un Pugno di Dollari conta a história de um forasteiro solitário (Clint Eastwood) que chega a um vilarejo dominado por duas famílias em pé de guerra. Em um primeiro momento, ele é atraído pela presença de Marisol (Marianne Koch), mas acaba ficando pela possibilidade de ganhar muito dinheiro como capanga de alguma das duas famílias, lideradas por Don Miguel Benito Rojo (Antonio Prieto) e John Baxter (Wolfang Lukschy). No entanto, ele não demora a descobrir o valor das informações e passa a jogar com o irmão Ramón Rojo (Gian Maria Volonté) e a esposa Consuelo Baxter (Margarita Lozano) – para desespero da população da cidade e de seu amigo Silvanito (José Calvo), o dono do bar.

Com esses nomes, é perceptível que as filmagens enfrentaram alguns problemas de comunicação. Além disso, todos tiveram que ser dublados posteriormente e o próprio Clint Eastwood só conseguiu colocar sua voz no filme três anos depois, em 1967, quando a obra foi lançada nos Estados Unidos. Para complicar, a história foi baseada em Yôjinbô, o que rendeu um processo feito por Akira Kurosawa (a título de curiosidade, ele depois afirmou ter ganho mais dinheiro com os 15% da receita de Per un Pugno di Dollari que com seu próprio filme).

O sucesso comercial não muda o fato de que as falhas da produção tornam muitos trechos do filme cômicos. As cenas externas, por exemplo, foram filmadas com sol a pino e disfarçadas para parecerem noturnas. Para completar, não há sangue durante os tiroteios, apenas atores se contorcendo. É nesse ponto que a criatividade de Sergio Leone ganha pontos. Ele inovou na maneira de filmar, colocando a câmera atrás do atirador e dando para o expectador a sensação de que ele está na cena. De certo modo, ainda bem que não havia muito sangue artificial disponível ou a violência nesse filme seria condenada até os dias de hoje.

A propósito, o comportamento egoísta e a frieza dos personagens com relação ao grande número de mortes dão um aspecto descomprometido ao filme, o que foi minimizado em uma falsa cena inicial gravada para a versão exibida por televisão nos Estados Unidos. Essa justificativa, contudo, enfraquece o misterioso personagem principal e entrega motivações pouco interessantes. É preciso entender que o protagonista não precisa necessariamente ser bom e que, às vezes, o ideal é saber menos para aproveitar melhor a história.

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