Divagações: The Wolf of Wall Street
21.1.14
Depois de uma temporada de filmes que fugiam um pouco do gênero que o consagrou, Martin Scorsese volta a dirigir uma obra que, mesmo não sendo a sua melhor, é a que certamente melhor representa o significado de ‘Scorsese sendo Scorsese’. Cheio de ironia, violência e cinismo, The Wolf of Wall Street é, de certa forma, um eco distante de Goodfellas e Casino, servindo como uma alegoria para outros tempos das mazelas e dos riscos que o poder e o dinheiro trazem a frágil alma humana.
Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é um corretor de ações no início de carreira. Seu comportamento ambicioso o levou de um simples empregado em uma firma nos subúrbios para um dos mais ricos especuladores dos Estados Unidos. Desde sua parceria com Donnie Azoff (Jonah Hill), seu casamento com Naomi Lapaglia (Margot Robbie) até seus confrontos com o agente do FBI, Patrick Denham (Kyle Chandler), vemos Belfort descer em uma espiral onde dinheiro, drogas, poder e sexo andam sempre juntos.
Assim, até me surpreendo um pouco ao pensar que The Wolf of Wall Street é catalogado como uma comédia, sobretudo porque ele não é verdadeiramente pensado para fazer humor. Com uma história baseada em fatos reais, a produção serve muito mais como uma crítica debochada a toda a cultura que circunda o capitalismo desenfreado das elites financeiras do que como uma comédia genuinamente engraçada.
Claro que há humor, mas ele reside no absurdo das situações e na acidez do texto. Há também a canastrice pensada de Leonardo DiCaprio, que em suas intervenções constantes durante o filme se dirige a nós, vangloriando-se de sua superioridade enquanto tenta nos vender seus ideais com o charme de um golpista.
Falando em DiCaprio, esta é sem dúvida uma de suas melhores atuações, monopolizando completamente o filme e nos fazendo tolerar um personagem que se aproxima muito do detestável. Ele conseguindo compor um papel que é inerentemente contraditório, sendo calculista, porém passional; perspicaz, porém cego pelo orgulho e pela ambição.
Há pouco o que se criticar nos aspectos técnicos, que certamente agradarão quem gosta do estilo. Porém, o filme peca na narrativa, com um desenvolvimento de personagens nulo, onde péssimas pessoas serão para sempre péssimas pessoas, incapazes de aprender ou ponderar sobre as implicações de seus próprios atos e se tornando piores a cada oportunidade que tem para tal. Não há catarse ou clímax, só uma corrida ao fundo do poço onde raramente os personagens se deparam com as consequências de suas ações, o que talvez justifique uma parcela da crítica que acusa o filme de banalizar os crimes cometidos pelo protagonista.
Para aqueles que já eram fãs do trabalho do diretor, não há motivos para não assistir The Wolf of Wall Street, já que ele destila todas as forças e fraquezas de Scorsese em um só lugar. Entretanto, não acho que este seja um filme para todos, não apenas pelo conteúdo altamente explicito, mas pela própria maneira que a narrativa se apresenta, funcionando mais como um retrato de uma época e de um estilo de vida do que como uma história fechada em si mesma. É aquele tipo de obra que é mais fácil amar ou odiar do que manter no meio termo.
Tudo em The Wolf of Wall Street transpira intensidade e exagero. O roteiro é ágil e ao mesmo tempo carregado, a narração é brilhantemente executada, a edição veloz consegue dar ritmo para uma história que, em outras circunstâncias, cansaria muito antes da marca de três horas.
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