Divagação: Los Amantes Pasajeros
25.3.14
Eu gostaria de ter assistido a Los Amantes Pasajeros no cinema. De repente, contudo, descubro que a produção está disponível na Netflix! Foi um sentimento dúbio, pois não estou ainda acostumada com essa chegada tão rápida das estreias nos serviços de streaming. Ainda assim, é algo com o qual terei que me familiarizar em breve, pois fora do país há filmes estreando em primeira mão para os assinantes e só depois aportando nas telonas. O mundo muda...
E como muda! Los Amantes Pasajeros é uma produção que não teria nenhum alcance há, digamos, vinte ou trinta anos. Agora, porém, ela vem estampada com o nome de um grande diretor e não pode ser ignorada. Por mais que os resultados de público e de crítica não tenham sido satisfatórios, o filme deve encontrar seu público em breve (se é que já não o encontrou!) e ter uma vida longa na televisão, embora eu suponha que isso ainda não seja possível na rede aberta do Brasil.
O motivo de tantas ressalvas? A premissa não é exatamente uma novidade. Afinal, trata-se de uma comédia passada dentro de um avião prestes a cair. Tudo começa com uma breve cena na pista do aeroporto envolvendo Penélope Cruz e Antonio Banderas. Depois, a incompetência deles nos leva para dentro de um avião sem um trem de pouso.
Dentro da aeronave estão os comissários de bordo Joserra (Javier Cámara), Ulloa (Raúl Arévalo) e Fajas (Carlos Areces), que bebem muito e alegam ter um grande repertório de performances para atender aos passageiros; o piloto Álex Acero (Antonio de la Torre), que é casado, mas tem um caso com Joserra; o co-piloto Benito Morón (Hugo Silva), que se diz hétero, mas tem muitas curiosidades sobre o sexo homossexual; a vidente Bruna (Lola Dueñas), que diz saber que algo incrível está prestes a acontecer; a neurótica Norma Boss (Cecilia Roth), cuja verdadeira profissão só fica clara ao final; o empresário corrupto Sr. Más (José Luis Torrijo), que está fugindo da Espanha para não ser preso; o famoso ator Ricardo Galán (Guillermo Toledo), que tem seus problemas amorosos expostos para todos; um homem misterioso chamado Infante (José María Yazpik); e dois recém-casados (Miguel Ángel Silvestre e Laya Martí).
Sem uma trama muito clara, Los Amantes Pasajeros se concentra em mostrar as relações entre esses personagens comicamente exagerados durante uma situação-limite (todos os demais tomaram um relaxante muscular e estão dormindo). Eles lidam com relações de poder, relacionamentos amorosos, assuntos pendentes, assuntos místicos e outros temas ao mesmo tempo em que bebem muito e até usam drogas – destaque para o coquetel Valencia batizado com mescalina. Obviamente, o filme também inclui várias conversas sobre sexo e também algumas cenas (tirem as crianças da sala).
Diretor e roteirista da produção, Pedro Almodóvar parece ter relaxado (no bom sentido, se é que vocês me entendem) nesse seu retorno à comédia. Fazia um bom tempo que seus filmes não eram tão coloridos quanto o que vemos em Los Amantes Pasajeros. Além disso, o elenco menos conhecido do público internacional, o enfoque em personagens gays, e a falta de uma dramaticidade mais acentuada afastaram a produção dos grandes festivais e das premiações. O filme é como uma grande piada que ele sentia vontade de contar, sem pressões.
Não sendo uma grande admiradora de comédias, apreciei Los Amantes Pasajeros como uma produção absolutamente divertida, daquelas que não querem me ensinar nada, mas apenas me levar para lugares diferentes e situações absurdas através de gente fora do comum. Só senti falta de mais números musicais! O único é aquele que dá título ao filme em inglês (“I'm So Excited!”) e já havia sido apresentado em vídeos de divulgação.
Eu gostei muito do filme porque não exigi nada dele. Assim, acredito que quem espera algo incrível vindo de Pedro Almodóvar deve limpar a cabeça das expectativas e simplesmente seguir a dica de uma conhecida política e sexóloga brasileira.
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