Divagações: The Lego Movie

Existem poucos brinquedos no mundo com a capacidade de atingir um público tão amplo quanto o Lego. De crianças a adultos, é difícil achar...

Existem poucos brinquedos no mundo com a capacidade de atingir um público tão amplo quanto o Lego. De crianças a adultos, é difícil achar alguém que nunca gostou de brincar com os coloridos blocos de montar ou com suas inúmeras versões genéricas. Eu mesmo era fascinado pelas imensas caixas que infestavam as lojas de brinquedo nos anos 1990 e nunca ter um deles foi uma reclamação constante que assombrou meus pais por quase toda a minha infância.

Deste modo, fazer uma adaptação que fizesse jus a uma marca amada por tantos era uma tarefa complicada, sendo que uma falha catastrófica não seria lá muito surpreendente. Porém, por mais absurdo que um filme baseado nessas pecinhas parecesse de início, logo fui me acostumando com a ideia – já que os materiais promocionais davam a entender que esta era uma obra que se esforçava muito para transmitir toda aquela magia que o brinquedo tem. Assim, não escondo que fui ao cinema completamente empolgado para assistir The Lego Movie.

De início, a trama parece um pouco formulaica: Emmet Brickowoski (Chris Pratt) é um cidadão normal de Bricksburg (Blocopólis, na versão brasileira) que, ao encontrar acidentalmente um artefato lendário, torna-se a peça central (com o perdão do trocadilho) de um conflito entre o maligno Lord Business (Will Ferrell) e os mestres construtores liderados pelo mago Vitruvius (Morgan Freeman). Ajudado pela habilidosa Wyldstyle (Elizabeth Banks), Emmet viaja através dos mundos procurando uma forma de deter o vilão e salvar todo o universo de sua total aniquilação.

Porém, para minha surpresa, o que poderia ser um roteiro previsível e sem sal acaba se tornando uma ótima aventura cheia de boas sacadas e bons personagens. Ao misturar figuras como Batman (Will Arnett), um astronauta dos anos 1980 (Charlie Day) e um pirata robô (Nick Offerman), The Lego Movie se torna uma celebração a imaginação e a criatividade que a marca representa, sendo um grande atrativo para toda a família ver na tela grande aquele mundo que só existia em nossas mentes.

A narrativa é cheia de boas piadas e momentos envolvendo esses personagens e muitas outras aparições especiais de diversas séries famosas, porém, esse não é exatamente o ponto central do filme. Há várias camadas, desde uma crítica a sociedade de consumo até uma celebração do próprio aspecto lúdico do produto – o que pode soar um pouco institucional demais em alguns momentos, mas se encaixa bem com toda a resolução da trama.

Visualmente, o filme todo é fantástico, recriando fielmente o visual do brinquedo e o seu comportamento, resultando em um agradável meio termo entre a computação gráfica e o stop motion. Todo o cenário emula perfeitamente o mundo de Lego, sem apelar para elementos estranhos àquele universo (destaque para o uso dos blocos para criar fogo, fumaça e água). O 3D, apesar de sutil, ajuda a intensificar essa sensação, realmente dando a impressão de que estamos vendo os bonecos e as construções de plástico.

Infelizmente, a dublagem nacional, apesar de competente – e sem nenhum ator global desta vez –, é um pouco falha em dar o mesmo ritmo e naturalidade às piadas, sendo que muitas tiradas e trocadilhos ficam claramente prejudicados pela adaptação. Sem contar com a pouca variedade de dubladores da versão nacional, que fica bem aquém do elenco numeroso (e cheio de grandes nomes, como Channing Tatum e Jonah Hill fazendo algumas pontinhas) do original.

Mesmo assim, não há como não recomendar The Lego Movie. É um dos raros filmes para a família que cumpre muito bem esse papel, conseguindo encontrar um bom equilíbrio entre agradar as crianças e os adultos, entregando mensagens pertinentes a ambas as faixas etárias. Se você algum dia sonhou em construir qualquer coisa fantástica com esses bloquinhos de plástico, ou se, como eu, até hoje inveja os caríssimos e cobiçados conjuntos temáticos que saem todos os anos, esse filme é para você, sendo uma das produções mais divertidas no cinema neste início de ano.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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