Divagações: Behind the Candelabra

Há alguns anos, um filme completamente financiado por um canal de televisão e com nomes conhecidos pelo grande público poderia até ser al...

Há alguns anos, um filme completamente financiado por um canal de televisão e com nomes conhecidos pelo grande público poderia até ser algo possível, mas dificilmente teria um lançamento na telinha. Behind the Candelabra, no entanto, traz um diretor de renome fazendo um projeto pessoal ao lado de grandes astros e com um orçamento livre de economias.

A história é baseada em um livro de Scott Thorson, onde ele fala sobre seu romance com o pianista Liberace. No filme, Thorson (Matt Damon) é um rapaz simples, mas com uma origem complicada, e que se encanta facilmente com a vida levada pelo riquíssimo Liberace (Michael Douglas). Embora o começo do romance seja encantador, não demora para que exigências e vaidades atrapalhem o casal, especialmente depois que Thorson é levado a fazer uma cirurgia plástica para ficar mais parecido com seu namorado.

Repleto de brilhos e figurinos exuberantes, Behind the Candelabra poderia ter facilmente se perdido em exageros e clichês. Contudo, Steven Soderbergh conta sua história com muita habilidade, deixando claro o ponto de vista e, ao mesmo tempo, mostrando elementos que o protagonista se recusa a enxergar. Uma das características mais interessantes é a forma sutil como percebemos o fim do relacionamento, com diversos paralelos sendo estabelecidos em relação ao começo do filme.

Além disso, o filme também aproveita seu contexto para trazer aspectos culturais da época. Começando no fim dos anos 1970, ele mostra uma cena gay forte, mas oculta do grande público – que preferia ignorar o que estava bem na frente de seus olhos. As mentiras contadas chegaram ao ponto de tentar esconder até mesmo a causa da morte de Liberace, vítima do vírus da Aids.

A propósito, contar a história desse que foi um dos primeiros grandes nomes do entretenimento estadunidense envolve muita purpurina. O estilo de vida completamente exagerado dos personagens foi o que afastou os grandes estúdios da produção, mas isso não poderia ser retirado. Há casacos com calda de sete metros feita com pele de raposas brancas virgens (para o filme, foi utilizada pele sintética), sungas brancas com lantejoulas, roupas pesadíssimas e repletas de brilho, além de muitos anéis, casas disfarçadas de palacetes e carrões esportivos.

Ainda assim, Behind the Candelabra traz algumas mudanças que evitam polêmicas. Para começar, Scott Thorson tinha apenas 17 anos quando começou seu romance com Liberace, que era 40 anos mais velho que ele. Essa idade, aliás, torna mais críveis certos comportamentos, que parecem imaturos demais para um personagem mais velho. Na época das filmagens, Matt Damon tinha 42 anos e Michael Douglas tinha 68 (Liberace morreu aos 67). Outra questão é a situação de Thorson, que tem registro de problemas com drogas até os anos 1990 e, de acordo com rumores, gastou todo o dinheiro que recebeu com o filme em joias e carros.

No geral, a produção se esforça para reconstruir o visual da época. Locações e figurinos foram recriados a partir de fotos e vídeos e os protagonistas receberam maquiagens que os deixaram realmente parecidos com os retratados. Vale mencionar o trabalho realizado com Rob Lowe, que interpretou o cirurgião-plástico Jack Startz. Ele teve que usar muitos esparadrapos para puxar a pele, além de maquiagem pesada e uma peruca.

Para o público brasileiro, Behind the Candelabra conta uma história de desconhecidos e tem um apelo muito pequeno. Ao mesmo tempo, trata-se de uma produção muito bem feita e que conta uma história de vida interessante. Vale a pena ligar a TV a cabo e dar uma olhada no que Hollywood está perdendo.

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