Divagações: 22 Jump Street

Em uma Hollywood que vive a base de prequels, remakes e continuações, não há nada mais desejável do que uma propriedade intelectual que s...

Em uma Hollywood que vive a base de prequels, remakes e continuações, não há nada mais desejável do que uma propriedade intelectual que subitamente se torna capaz de bancar uma sequência. Porém, também não é preciso se esforçar muito para notar que esses filmes raramente são tão bons quanto os originais, muitas vezes perdendo justamente aquelas qualidades que foram o motivo do sucesso anterior.

O que fazer, então, quando o seu relativamente bem recebido filme de comédia levemente baseado em uma série adolescente do final dos anos 1980 recebe a luz verde para uma continuação completamente desnecessária? Entre se repetir buscando os mesmos resultados e subverter completamente as expectativas, 22 Jump Street encontra o seu lugar justamente ao compreender que nunca poderá, para o bem ou para o mal, ser a mesma coisa do seu predecessor.

Tal como profetizado por Captain Dickson (Ice Cube), esse filme mostra Jenko (Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill) colhendo os louros da missão bem sucedida. Com mais orçamento e querendo repetir os bons resultados, a equipe agora é enviada para a faculdade em busca do fornecedor de uma nova droga. Porém, apesar da insistência de que o caso é exatamente igual ao anterior, a dupla logo descobre que nem tudo é tão parecido assim.

É impossível não fazer a comparação com 21 Jump Street, sobretudo porque o filme constantemente o lembra como as coisas eram no passado – com direito até mesmo a uma montagem com as cenas do capítulo anterior. De modo geral, a produção se sai bem em encontrar seu próprio lugar ao extrapolar ainda mais algumas das coisas boas que vimos antes. O humor está ainda mais exagerado e escrachado, sendo até mesmo pueril de vez em quando, carregado de situações embaraçosas, gags visuais e uma dose até mesmo surpreendente de metalinguagem.

Porém, sinto que muitos desses ganchos poderiam ter sido melhor aproveitados, já que o filme é um pouco tímido em embarcar de vez na completa autoparódia. Os freios acabam fazendo com que o resultado final seja um pouco mais conservador do que precisaria ser; é como se o filme estivesse constantemente dizendo ao expectador: “é a mesma coisa de antes, só que não! Só que sim”. Nada que atrapalhe demais quem gosta desse tipo de humor, que continua afiado e um bocado acima da média, ainda que igualmente desagradável para quem não está muito disposto a rir de certas bobagens.

Só sinto falta de uma trama mais coerente. Apesar de menos formulaico, 22 Jump Street ainda falha em não entregar personagens interessantes e tridimensionais, sendo que muitas vezes até mesmo os protagonistas não passam de um punhado de estereótipos criados para facilitar algumas piadas, o que soa um pouco cansativo.

A própria representação da faculdade acaba caindo nessa mesmice, onde tudo são festas regadas a álcool e drogas, cheia de hipsters e esportistas chapadões como o desinteressante Zook (Wyatt Russell). Para um filme que se esforçou tanto para ser diferente, ver uma história batida como essa é, no mínimo, lamentável.

Ainda assim, não há como se dizer que este seja um filme ruim ou de mau gosto, tendo alguns momentos genuinamente engraçados e bem escritos, e evitando a todo custo o efeito The Hangover ao fugir tanto quanto pode da mesma estrutura do predecessor. Nem que apenas pela excelente sequência dos créditos, para mim uma das melhores dos últimos tempos, 22 Jump Street se mostra como uma alternativa sólida para aqueles que buscam um besteirol.

Outras divagações:

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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