Divagações: Inside I'm Dancing
21.8.14
Muito se fala sobre o cinema brasileiro ser dependente de investimentos governamentais para existir. Contudo, é preciso observar que fazer cinema realmente é caro e são poucos os países que conseguem ter uma produção completamente independente. Inside I'm Dancing, por exemplo, foi parcialmente financiado pelo Irish Film Board, que não é exatamente um órgão governamental, mas funciona para apoiar as produções do país – e ainda bem que ele existe.
O filme começa com a chegada de Rory O'Shea (James McAvoy) a uma casa de apoio a pessoas que vivem em cadeira de rodas. Ele tem uma doença degenerativa que o permite mexer apenas dois dedos da mão, o suficiente para ‘pilotar’ sua cadeira e utilizar o controle remoto para ligar o rádio em alto volume. Considerado um rebelde no calmo ambiente do lugar, Rory acaba fazendo amizade com Michael Connolly (Steven Robertson), um rapaz com paralisia cerebral que tem dificuldades para falar, mas é muito inteligente. Juntos, os dois decidem viver de forma independente e, para isso, contratam a inexperiente Siobhan (Romola Garai) para ajudá-los nas tarefas do cotidiano.
Embora não negue que tenha sido feito para fazer você chorar, o filme provoca risadas na maior parte do tempo. A dinâmica entre os três personagens principais funciona muito bem, com James McAvoy falando alto e muito rápido na maior parte do tempo. Ele é, sem dúvida, o coração do filme, trazendo elementos de birra e rebeldia adolescente que se tornam mais aceitáveis devido à condição – física e psicológica – de seu personagem.
Por sua vez, Steven Robertson está incrivelmente realista, enquanto Romola Garai consegue transmitir de forma coerente a vivacidade e a trajetória de crescimento de sua personagem. Já os personagens secundários não ganham muito espaço, sendo planos e irrelevantes na maior parte do tempo.
Baseado em situações vistas por Christian O'Reilly enquanto ele trabalhou em um ambiente parecido, Inside I'm Dancing tem roteiro de Jeffrey Caine e direção de Damien O'Donnell, representando um ponto de transição importante na carreira de ambos. Não é sem razão. O filme resiste à tentação de se tornar um dramalhão, sendo tão focado em seus protagonistas que passa a enxergá-los além de suas deficiências. Ao mesmo tempo, são explorados tantos aspectos das vidas deles – amores, relações familiares, dinheiro, estudo, acessibilidade – que você se questiona como isso foi possível.
Em grande parte, eu diria que o bom resultado de Inside I'm Dancing é devido ao talento dos jovens atores. Ao final, você sente que consegue entender o que Michael está dizendo, mesmo que suas palavras continuem tão confusas quanto antes. A verdade é que, aos poucos, fica difícil não se identificar com características dos três protagonistas. Quando o conflito chega ao ápice, por exemplo, você fica triste pelos três, mas entende tão bem os motivos de cada um que também não consegue sentir pena de nenhum.
Ao final, você vai chorar com o filme não por ele trazer acontecimentos tristes – por mais que ele realmente os traga – mas por estar envolvido emocionalmente com cada um daqueles personagens. A luta deles por viver de forma digna deveria ser um direito, mas é uma batalha diária mesmo quando tudo aparentemente está certo. São histórias de vida maravilhosas, não meros dramas.
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