Por mais que eu ainda me divirta com os filmes da Marvel (bem menos do que em outros tempos), comecei a achar frustrante a necessidade de ter que acumular toda uma série de conhecimentos para conseguir acompanhar histórias rocambolescas e que não iam para lugar nenhum, pois serviam apenas para construir algum vilão grandioso – e que nunca vai chegar, diga-se de passagem.
Ao menos, esse não é um problema com The Fantastic Four: First Steps, já que o filme funciona muito bem mesmo para alguém que porventura caia de paraquedas em uma sessão aleatória. Ele é autocontido e até se beneficia de conhecimentos externos, mas nada disso é necessário para que a trama faça sentido.
Em uma realidade paralela, os anos 1960 têm ares futurísticos; ou o futuro tem uma estética que lembra os anos 1960. Nesse contexto, Reed Richards (Pedro Pascal) é um cientista renomado que partiu em uma missão espacial com sua esposa, Sue Storm (Vanessa Kirby); seu cunhado, Johnny (Joseph Quinn) e seu melhor amigo, Bem Grimm (Ebon Moss-Bachrach). Entretanto, algo deu errado e eles voltaram para a Terra com mutações.
O que poderia ser uma tragédia se transformou em algo diferente, já que eles assumiram a função de “guardiões” do planeta contra todo o tipo de vilões. Assim, nada mais natural que eles sejam diretamente envolvidos quando uma pessoa prateada que flutua pelo ar em uma prancha (Julia Garner) surge para anunciar que, em breve, Galactus (Ralph Ineson) vai devorar o planeta e que, por isso, todos devem se preparar para morrer ao lado de quem amam.
Assim, quando até mesmo os vilões parecem se preocupar com os relacionamentos familiares, The Fantastic Four: First Steps consegue vender muito bem a ideia de que aqueles personagens têm uma unidade e se importam de verdade uns com os outros. O casal principal, por exemplo, se respeita muito e todos parecem ter os mesmos valores e prioridades. Mas isso não quer dizer que não exista tensão entre cunhados, ainda mais com todos morando na mesma casa.
Com essa base sólida, a produção consegue seguir em frente mesmo tendo uma história bastante simples. Além disso, sem o excesso de reviravoltas estrambólicas, a fórmula narrativa dos filmes de herói fica ainda mais pueril – algo que aceitei sem muitos problemas porque ela era acompanhada por uma estética muito limpa e que também remetia a algo mais ingênuo. Ou seja, a simplicidade trouxe uma espécie de frescor, embora isso não esteja necessariamente relacionado a um maior apelo.
Falando por mim, em nenhum momento acreditei que poderia acontecer algo diferente de um final feliz, pois The Fantastic Four: First Steps simplesmente não tem a profundidade emocional para lidar com qualquer tragédia que fosse. Teve um breve momento em que o filme quase me convenceu de que alguma coisa ruim poderia acontecer, mas isso durou pouco e foi acompanhado por certa desconfiança.
De qualquer forma, o filme é muito charmoso, tem bons efeitos visuais e entrega uma história que funciona. Se o objetivo era atrair crianças e adolescentes para o cinema e vender pipoca, acredito que essa normalmente seria uma iniciativa com grandes chances de ser bem-sucedida. O problema é superar a falta de interesse pela “experiência” do cinema em si e a própria bagagem carregada que a Marvel carrega.
Pensando em médio ou longo prazo, The Fantastic Four: First Steps tem grandes chances de ser esquecido com o passar do tempo. Mas ele realmente consegue virar uma página e trazer heróis do estúdio sem a necessidade de escancarar sua presença em um “universo cinematográfico”. Para mim, essa é uma excelência estratégia para seguir em frente.
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