Divagações: The Last Station
19.8.14
Em 2010, Helen Mirren e Christopher Plummer foram indicados ao Oscar por suas atuações em The Last Station. Como faço todos os anos aqui no blog, comentei as indicações e escrevi, em ambos os casos, que o fato de praticamente ninguém ter visto o filme os prejudicava. No final das contas, nenhum dos dois levou a estatueta para casa. Olhando em retrospecto, não tiraria o prêmio de Christoph Waltz (Inglourious Basterds), mas ainda acho que a escolha de Sandra Bullock (The Blind Side) é questionável.
The Last Station acompanha os últimos dias da vida de Lev Tolstoi (Plummer) conforme vistos pelos olhos de seu secretário, o jovem Valentin (James McAvoy), tão devotado quanto inexperiente. O destaque vai para a espécie de religião que surge ao redor da figura do escritor, promovida principalmente por seu amigo Chertkov (Paul Giamatti). Muitos dos preceitos criados lembram ideias socialistas, mas é preciso observar que o escritor morreu em 1910, sete anos antes da Revolução Russa.
De qualquer modo, o conflito surge na figura da esposa de Tolstoi, Sofya (Helen Mirren). Como uma boa aristocrata, ela vai contra as comunidades, o fim da propriedade privada e a cessão dos direitos da obra de seu marido. Já os filhos do casal são representados brevemente, com a exceção de Sasha (Anne-Marie Duff), que também é partidária das ideias de Chertkov. Ou seja, não fica difícil entender que Sofya tenha desenvolvido uma postura no melhor estilo “eu contra o mundo”.
Em grande parte devido a essa temática histórica pouco conhecida, The Last Station continua sendo um filme que quase ninguém viu. Se o conteúdo fosse abordado em sala de aula, suponho que ele seria adotado por muitos professores de História, mas não é o caso – sem contar que isso tornaria a obra odiada por muitos alunos. Ainda assim, quem tem interesse pela obra de Tolstoi ou pelo avanço dos ideais socialistas na Rússia pode ver a produção com carinho.
Para quem gosta de produções históricas, o filme capricha nos cenários e nos figurinos. As belas paisagens parecem entrar em contradição com o que acontece dentro da casa, que é iluminada para também apresentar as diferenças entre os cômodos (as dependências do escritor e as de sua mulher são drasticamente contrastantes). A tendência segue com o aparente isolamento do local e a presença constante de jornalistas e fotógrafos acompanhando o dia a dia da família como poderia acontecer atualmente com celebridades.
Além disso, a própria atuação de Christopher Plummer segue essa diretriz. Seu personagem não faz o que é esperado dele, embora tenha plena consciência de que os demais o colocam em um pedestal. Na verdade, todo o elenco consegue lidar bem com as aparentes contradições de seus personagens. Helen Mirren interpreta a esposa apaixonada e a aristocrata protecionista, que alterna entre afastar e atrair seu marido. Já o personagem de James McAvoy tem uma jornada interessante de crescimento, o que funciona para a figura do narrador. Sasha e Chertkov resultam mais planos, mas contrastam com outra personagem, Masha (Kerry Condon), uma das discípulas de Tolstoi.
É preciso dizer que o diretor Michael Hoffman fez um trabalho de primeira qualidade em The Last Station. Por mais que o filme acabe atingindo um público reduzido, ele consegue surpreender e atiçar a curiosidade. Para mim, assistir a essa produção foi como encontrar algo precioso.
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