Divagações: The Judge

Apesar de ser um indivíduo com uma relação de amor e ódio com o direito, vou admitir que não estava nem um pouco empolgado para ver The J...

Apesar de ser um indivíduo com uma relação de amor e ódio com o direito, vou admitir que não estava nem um pouco empolgado para ver The Judge. Afinal, filmes de tribunal já há muito não têm o mesmo apelo de outrora. Também arrisco dizer que, se não fosse pelo carisma de Robert Downey Jr. em seu AMA no Reddit, dificilmente eu teria ido aos cinemas para conferir. Preciso admitir que não sei se foi uma decisão acertada, já que The Judge, mesmo sendo um filme bacana, não entrega nenhuma novidade.

A premissa por si só já não soa terrivelmente original: Hank Palmer (Downey Jr.) é um advogado bem sucedido, porém totalmente sem escrúpulos ou caráter, com uma vida pessoal conturbada e em um relacionamento infeliz. Seu pai, o juiz Joseph Palmer (Robert Duvall), dedicou sua vida a manter a justiça na pequena cidade do interior onde cresceu, mesmo ao custo do relacionamento com a sua família. Quando Hank volta para sua cidade natal para o funeral de sua mãe, ele descobre que seu pai fora acusado por um crime do qual ele não se recorda, forçando o advogado a encarar os problemas de seu passado na tentativa de inocentar o pai.

Surpreendentemente, o filme é bem menos focado nos procedimentos jurídicos, dando mais espaço ao drama dos personagens e à luta de Hank em se reconectar com seu passado. Sinto que essa foi uma escolha especialmente pensada por Robert Downey Jr. na sua tentativa de se desvincular um pouco dos seus papéis icônicos na Marvel e da franquia Sherlock Holmes, tentando se voltar para um drama um pouco mais pesado.

Pelo menos vemos que o elenco se esforça para fazer valer essa premissa. Downey Jr., mesmo interpretando o mesmo personagem de sempre – o playboy espertalhão, carismático e moralmente questionável –, consegue convencer no papel. Robert Duvall também não deixa nada a desejar, entregando-se ao personagem e servindo como o contraponto ideal para Hank. Alguns coadjuvantes como a antiga namorada de Hank, Samantha Powell (Vera Farmiga) e o promotor Dwight Dickham (Billy Bob Thornton) também são interessantes, apesar de pouco aproveitados.

O problema maior, então, está no roteiro, que pouco se esforça para sair do feijão com arroz, transformando o filme em um melodrama que só apresenta uma ou duas surpresas em sua totalidade. Se você já viu algum desses dramas de gerações, é mais do que provável que adivinhe tudo que vai acontecer até a chegada dos créditos (e até mesmo depois deles), fazendo com que os já extensos 140 minutos do filme passem bem devagar em alguns momentos.

Mas, apesar de tudo, o filme não chega a ser ruim, compensando a falta de inovações com atuações sólidas e uma mensagem sincera, que, mesmo já batida, é capaz de emocionar os corações mais sensíveis às conturbadas relações de pais e filhos. Não sei se vale a pena uma ida ao cinema (ou até talvez valha, nessa temporada fraquíssima de estreias), mas The Judge certamente funciona como um programa para aquele sábado chuvoso em que você fica zapeando pela televisão a cabo ou pela Netflix sem nada para assistir.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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