Divagações: Sin City - A Dame to Kill For
14.10.14
Enquadramentos calculados. Homens brucutus e mulheres sedutoras. Preto e branco com forte contraste. Pontos de cor estratégicos. Quem assistiu Sin City sabe bem do que estou falando – e tudo isso pode ser conferido novamente em Sin City: A Dame to Kill For, continuação direta do longa-metragem anterior.
Sob o olhar mais ou menos atento de Marv (Mickey Rourke), Nancy (Jessica Alba) está tentando lidar com a perda de Hartigan (Bruce Willis) ao arquitetar uma vingança contra o senador Roark (Powers Boothe). Enquanto isso, o próprio lida com um novo rival nas mesas de pôquer, Johnny (Joseph Gordon-Levitt). Por sua vez, Dwight (Josh Brolin) quer se livrar dos antigos vícios e de Ava (Eva Green), que tem um protetor na figura do descomunal Manute (Dennis Haysbert).
Várias histórias se entrecruzam ao longo de pouco mais de 100 minutos de projeção. Sin City: A Dame to Kill For é um filme curto e intrincado, apostando tanto em seu visual que se esquece de ter um roteiro consistente. Funciona por que é rápido, realmente muito bonito e conta com um elenco muito legal, mas é por pouco.
Para começar com os problemas: o filme aposta que seus espectadores ainda se lembram bem do anterior, lançado em 2005. Quem puder, recomendo que assista antes de ir ao cinema, pois alguns personagens não são reapresentados. Além disso, é esperado que os personagens sejam planos, mas incomoda um pouco quando todos parecem iguais. Por exemplo: é incrível o fato de que praticamente todas as mulheres só amaram realmente um homem durante a vida. Gail (Rosario Dawson) poderia ser mais marcante se tivesse outra desculpa na manga.
Além disso, a estética não é mais novidade. A direção feita em parceria por Robert Rodriguez e Frank Miller (que também assina o roteiro) inova muito pouco e prefere apostar naquilo que deu certo na primeira vez – observando que o filme tem seus admiradores fiéis. A demora no lançamento e a recepção fraca do antecessor, entretanto, fizeram com que a ansiedade do público em geral decaísse consideravelmente, resultando em números ainda mais fracos. Se depender de grandes estúdios, uma terceira parte pode ficar na gaveta indefinidamente.
É preciso admitir que o noir exagerado com toques de cor funciona bem em 3D, embora o efeito não seja exatamente necessário. Algumas cenas ficam particularmente bonitas – como a abertura e a sequência da piscina – mas esse não deixa de ser mais um apelo visual em uma produção carente de conteúdo. Por mais que algumas passagens tenham sido escritas com exclusividade para a produção, a sensação é que muitos dos moradores dessa cidade cheia de pecado podem ter histórias melhores para contar.
Talvez tudo isso seja apenas triste porque Sin City já fez sua escola e sua continuação não é uma produção tão única e especial. Isso, obviamente, era de se esperar. Sin City: A Dame to Kill For continua sendo uma boa experiência para quem quer ter contato com novas formas de utilizar a linguagem cinematográfica, sendo tão fiel ao seu material original – os quadrinhos – sem deixar de fazer referências a gêneros clássicos da sétima arte. É um trabalho de quem tem know how, mas não é uma obra-prima.
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