Divagações: Lars and the Real Girl

Três anos antes de Blue Valentine e três anos depois de The Notebook , Ryan Gosling já era conhecido, mas não estava fazendo muitos fil...

Três anos antes de Blue Valentine e três anos depois de The Notebook, Ryan Gosling já era conhecido, mas não estava fazendo muitos filmes. Em sua preferência por escolher papeis interessantes em detrimento de produções que dariam mais reconhecimento, ele optou por Half Nelson – sua única indicação ao Oscar até o momento – e Lars and the Real Girl, um filme relativamente modesto, que custou U$ 12 milhões (no mesmo ano, Transformers teve o orçamento de U$ 150 milhões).

A história, que chegou a ser indicada ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (texto de Nancy Oliver), acontece em uma pequena e religiosa cidade canadense. Lars Lindstrom (Gosling) é um jovem tímido que foi criado por um pai problemático e mora nos fundos da casa de seu irmão, Gus (Paul Schneider), que, por sua vez, está prestes a ter um filho com Karin (Emily Mortimer).

Há certa pressão para que ele arrume uma namorada e a colega de trabalho Margo (Kelli Garner) não sabe se tem chances. Assim, todos se surpreendem com o anúncio da chegada de Bianca – apenas para descobrirem que se trata de uma love doll. O comportamento estranho é interpretado como um pedido de socorro pela médica Dagmar (Patricia Clarkson) e, em pouco tempo, todos se mobilizam para incluir a ‘moça’ na sociedade local.

Por mais que pareça louca, a trama é muito bonitinha e mostra como as pessoas podem ser solidárias. Suponho que, em uma situação real, Lars encontraria muito mais gente disposta a rir dele e a se aproveitar da situação, mas é tão melhor assim! O diretor Craig Gillespie é muito sensível em registrar reações e mudanças de comportamento, mostrando como a cidade decide abraçar aquele filho com problemas. Às vezes, é difícil entender o comportamento de Lars, pois já o conhecemos como um rapaz problemático, mas ficamos com a sensação de que aquelas pessoas acompanharam sua infância e o viram crescer.

A situação, é claro, não deixa de ter seu lado cômico. Isso proporciona um equilíbrio interessante, uma vez que não é sempre que vemos uma boneca como essa frequentando a igreja. O filme, assim, não se torna um drama pesado e não pede por piedade, apenas por paciência e entendimento. É raro termos uma obra sobre uma pessoa tão introvertida e Lars and the Real Girl consegue levar o público para o mundo de uma pessoa que tem medo de ser tocada, que simplesmente não gosta de interagir.

A maneira como tudo se desenvolve também é bastante satisfatória. A história funciona em um crescendo, onde cada vez mais personagens estão envolvidos – até que o protagonista se perde e precisa novamente assumir o controle. Ryan Gosling e Emily Mortimer merecem destaque por interpretarem personagens quase opostos, mas que se gostam muito. Ele consegue tornar o filme crível, enquanto ela expressa o coração que contagia a todos.

Lars and the Real Girl exige comprometimento emocional, mas não tenta fazer seu espectador chorar a qualquer custo. É um filme sensível, bonito e sincero, do tipo único e apaixonante, exatamente como os personagens que retrata.

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