Divagações: Jesus Christ Superstar

Muitas produções se tornam importantes sem que o público chegue a saber exatamente os motivos. Por exemplo, no caso de Jesus Christ Super...

Muitas produções se tornam importantes sem que o público chegue a saber exatamente os motivos. Por exemplo, no caso de Jesus Christ Superstar, o título causa estranheza e muitos supõem que seja essa abordagem a principal polêmica do filme. Já ouvi falarem que se trata de uma bobagem que coloca a figura religiosa no papel de um ídolo do rock. Também já ouvi que é uma produção muito ousada e capaz de quebrar conceitos na mente das pessoas. Sinceramente: nem uma coisa nem outra.

Jesus Christ Superstar é uma adaptação cinematográfica do musical de Tim Rice, com composições de Andrew Lloyd Webber. Dirigido por Norman Jewison – que escreveu o roteiro em parceria com Melvyn Bragg –, o filme é quase uma peça de teatro, pois possui poucos cenários, é totalmente cantado e exige muito da imaginação do espectador. Para o público de hoje, admito que não se trata de um filme fácil de assistir, mas também não é nada de outro mundo.

A história, suponho, é de conhecimento geral. Jesus Christ (Ted Neeley) é um líder carismático que reúne muitas pessoas ao seu redor (o que, a princípio, explica o título). Não demora muito para que ele e seu grupo de seguidores comecem a chamar a atenção do império romano, especialmente Pontius Pilate (Barry Dennen). Eventualmente, um dos mais preocupados apóstolos, Judas Iscariot (Carl Anderson), realiza uma negociação falha com os romanos, que leva Mary Magdalene (Yvonne Elliman), Peter (Paul Thomas) e os demais a momentos de desespero.

Com poucos personagens relevantes, um visual muito próprio e sem a presença de diálogos, Jesus Christ Superstar acaba mostrando mais sobre a época em que foi feito do que poderia se imaginar. Lançado em 1973, o filme parece um reminiscente da época dos hippies, com cabelões, roupas largas, danças de roda e a vida em comunidades.

O único elemento destoante é mesmo esse líder idolatrado sem que haja muitas justificativas para tal. Dentro desse contexto, Jesus já aparece como um grande nome, um homem a ser seguido e amado. Ou seja, há pouco espaço para questionar sua real importância ou seu papel para a civilização atual. A história a ser contada é mais importante que as ‘futuras’ implicações daqueles acontecimentos.

Obviamente, essa aparente pouca importância também surge na falta de compromisso com fatos históricos e no momento de apontar responsabilidades, motivo pelo qual o filme foi amplamente criticado na época de seu lançamento. Ainda assim, quero acreditar que Jesus Christ Superstar é mais uma interpretação pessoal e um exercício musical que uma tentativa de ofender ou machucar alguém (mas, infelizmente, essas coisas acontecem).

Filmado no deserto, em um lugar belíssimo e com uma fotografia caprichada, a produção acaba destacando os personagens com as melhores músicas – Judas e Mary Magdalene. Essa forma de levar as coisas torna o filme marcante e absolutamente único. São belas vozes que se destacam acima daquela que deveria ser a do grande ídolo. É estranhamente irônico e maravilhoso ao mesmo tempo.

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