Divagações: The Last King of Scotland

Quando o título não chega a entregar a história, muitas pessoas começam a fazer ideias erradas sobre a premissa, o gênero ou até mesmo o ...

Quando o título não chega a entregar a história, muitas pessoas começam a fazer ideias erradas sobre a premissa, o gênero ou até mesmo o tom da produção. Vi isso acontecer mais de uma vez com The Last King of Scotland, mas acredito que todos aqueles que decidiram se arriscar acabaram gostando. A propósito, o filme não se passa na Escócia.

Tudo começa quando o jovem médico Nicholas Garrigan (James McAvoy) decide ir viver na Uganda. Ele chega ao país praticamente ao mesmo tempo em que o general Idi Amin (Forest Whitaker) assume o poder com grande aclamação popular e acaba se encantando com a figura do novo líder. A simpatia é mútua e não demora para que Garrigan se torne médico particular de Amin, ganhando poderes em um governo cada vez mais autoritário e assustador. Quando ele percebe no que está envolvido, contudo, a situação saiu completamente de seu controle.

Vale observar que The Last King of Scotland é apenas baseado em fatos reais. Muitos dos acontecimentos históricos apresentados são verídicos, mas o personagem de McAvoy é ficcional e foram realizadas diversas adaptações. Na verdade, a presença do simpático e ingênuo médico escocês serve para introduzir o espectador aos poucos em uma cultura tão diferente e, também, para que se torne possível proporcionar um olhar mais próximo sobre a figura de Idi Amin. A propósito, o ditador realmente existiu e comandou o país por oito anos.

De qualquer modo, a estratégia funciona bem. Forest Whitaker surge como uma página em branco a ser desvendada, embora tudo ao seu redor seja muito suspeito. A maior parte das pistas surge por meio de sua terceira mulher, Kay (Kerry Washington), mas é a atuação de Whitaker que realmente faz com que o líder carismático se transforme em um tirano dos mais cruéis bem na frente de nossos olhos. Por mais que isso seja esperado, ele ainda consegue surpreender e chocar!

Fotografada maravilhosamente, a produção não mostra uma África repleta de bichinhos selvagens, mas também evita exagerar nas demonstrações de pobreza. A situação precária da saúde ganha um destaque óbvio por causa da profissão do personagem, mas é preciso considerar que o país possui cidades bem estabelecidas e que, no fundo, não são assim tão diferentes das que temos no Brasil. Nesse caso, a bela iluminação não diminui a força das temáticas, pelo contrário, valoriza a luta daquelas pessoas.

Na época de seu lançamento, o filme foi criticado por não mostrar o alcance das crueldades do ditador. Por se concentrar nas performances, não acredito que a expressão visual disso seja realmente necessária, uma vez que muito fica para a imaginação do espectador (e outro bom tanto é mostrado). Outro aspecto que é apenas sugerido é a força do imperialismo britânico sobre o país, mas esse é outro caso em que seria necessária uma mudança de abordagem.

Com atuações sólidas e a direção firme de Kevin Macdonald, The Last King of Scotland consegue ser um filme perturbador sobre a natureza humana sem deixar de ser um drama histórico. Forest Whitaker entregou essa que é a melhor performance de sua carreira e, sinceramente, duvido que existam muitos atores capazes de fazer algo melhor.

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