Divagações: A Little Princess

Filmes que marcam a nossa infância costumam ter um lugar reservado no coração. Eles são vistos e revistos diversas vezes, sem nunca cansa...

Filmes que marcam a nossa infância costumam ter um lugar reservado no coração. Eles são vistos e revistos diversas vezes, sem nunca cansar. Nessa categoria, eu incluo The Rescuers, The Little Mermaid e, claro, A Little Princess. Cito esses três exemplos porque são filmes que, atualmente, eu me orgulho de ter gostado antes de saber o que eles representam para quem gosta de cinema. Já falei sobre The Rescuers em uma divagação própria e, em uma futura oportunidade, tratarei de The Little Mermaid. Mas hoje é a vez de A Little Princess.

Baseado no livro de Frances Hodgson Burnett – que eu, eventualmente, também acabei lendo – o filme conta a história de Sara Crewe (Liesel Matthews), uma menina de ascendência britânica, mas criada na Índia, que vai para a escola nos Estados Unidos quando seu pai (Liam Cunningham) precisa ir para a guerra. Filha de um militar renomado, ela recebe todas as atenções da diretora do lugar, Miss Minchin (Eleanor Bron). Contudo, quando chega a notícia do falecimento, a menina se torna empregada da escola sob condições cruéis, ao lado da pequena Becky (Vanessa Lee Chester).

A grande motivação da protagonista é o fato de que, não importa o que aconteça, seu pai disse que ela é uma princesinha – e isso permanecerá sendo verdade enquanto ela acreditar. Ao longo da história, Sara tem suas recaídas, mas sempre consegue se levantar e continuar, até um final pouco crível, mas satisfatório. Na verdade, essas histórias infantis com protagonistas femininas sofredoras, mas resistentes e encantadoras (no melhor estilo Pollyanna), funcionam bem dentro de um contexto do início do século XX, que coloca as meninas na difícil posição de ter que encaminhar a própria vida, mas dentro da moral e dos bons costumes.

Enquanto o livro se preocupa com o comportamento digno de uma princesa, no entanto, o filme se foca na magia da Índia e do imaginário infantil, a ponto de usar o mesmo ator para o papel do protagonista das histórias que Sara conta para as colegas. Aliás, fica impossível falar em magia e deixar de citar que o diretor é Alfonso Cuarón, em seu segundo longa-metragem e primeiro grande projeto fora do México.

Cuarón, a propósito, lida bem com um roteiro cheio de buracos e desmembramentos óbvios ao focar no poder de se acreditar em algo. Assinado por Richard LaGravenese e Elizabeth Chandler, o texto tenta suavizar os pontos mais moralistas da história, mas cria seus próprios problemas, especialmente com relação às motivações de Ram Dass (Errol Sitahal), um indiano que mora ao lado da escola e acaba se afeiçoando à menina. Para quem não for muito exigente, dá para fingir que ele sabe o que está fazendo.

Não dá para fingir que A Little Princess é uma obra-prima, mas é preciso admitir que se trata de um filme para crianças feito com a preocupação de quem conta uma história para gente grande. A trilha sonora assinada por Patrick Doyle funciona muito bem até hoje e a caracterização é muito bem feita. Alfonso Cuarón ainda não tinha feito Y tu mamá también, mas já sabia que tipo de cinema queria criar – e esse foi apenas o primeiro passo.

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