Divagações: Mad Max - Fury Road
26.5.15
Exatos 30 anos se passaram entre Mad Max Beyond Thunderdome e Mad Max: Fury Road. De 1985 até hoje, muita coisa mudou. Desde a paisagem australiana à conjuntura geopolítica do mundo, dois aspectos que – acredite ou não – contribuíram para essa demora no lançamento de uma quarta parte da trilogia. Ou seria algo completamente novo?
O diretor e roteirista George Miller não se preocupa em deixar isso exatamente claro, mas convenhamos que, durante toda a franquia, ele sempre foi bom em esconder justamente o que poderia ficar para a imaginação completar. A história pequena, ao redor dos personagens centrais, sempre foi mais importante que o contexto geral.
Nesse novo longa-metragem, Max Rockatansky (Tom Hardy) é capturado por uma grande comunidade organizada ao redor de um líder tirano, Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). Ele é acorrentado e forçado a servir como bolsa de sangue de um guerreiro com tendências suicidas, Nux (Nicholas Hoult). Sua única chance de escapar, assim, surge com uma perseguição a Imperator Furiosa (Charlize Theron), que deixou a cidade em busca do lugar onde nasceu.
A trama de Mad Max: Fury Road é linear e serve, acima de tudo, para valorizar o visual pretendido pelo diretor – tanto é que o storyboard foi elaborado antes do roteiro propriamente dito, de forma que as falas foram praticamente encaixadas entre as sequências de ação. Quase todo o filme se passa em uma gigantesca perseguição, sobrando pouco tempo para o público respirar aliviado.
Colaborando para marcar a ação, a trilha sonora de Junkie XL tocou em uniformidade com o filme, com direito a guitarras elétricas e tambores entre os carros. Nesse contexto, a música não servia apenas para situar os espectadores dentro da tensão, mas para motivar perseguidos e perseguidores a acelerarem cada vez mais.
Com relação ao elenco, Tom Hardy não tinha exatamente uma missão muito difícil ao substituir Mel Gibson. O personagem é bastante taciturno e parece atrair mais problemas do que provocá-los. Por sua vez, Charlize Theron assume bem as rédeas de sua personagem, mostrando versatilidade e fazendo um contraponto interessante ao protagonista.
Para os fãs dos filmes anteriores, preciso assegurar que a fotografia de John Seale para Mad Max: Fury Road fez jus ao trabalho original, com um mundo pós-apocalíptico único e maravilhosamente caótico. Ao mesmo tempo, a edição de Margaret Sixel se rendeu a homenagens à trilogia clássica, com direito até a sequências levemente mais rápidas que o natural.
Obviamente, há diferenças. Três décadas se passaram e o cinema não é mais o mesmo. Felizmente, essa atualização fez bem para o filme, que pode se aproveitar de novos ângulos de câmera e de ajudas ocasionais da tecnologia. Aproximadamente 80% de tudo o que é visto no filme foi realmente feito na frente de uma lente, sem apoio de efeitos especiais por computador. Caso você se questione, uma parte da paisagem é falsa, alguns cabos foram apagados e, claro, o braço de Charlize Theron não é do jeito que vemos na tela. De resto: muita maquiagem, trucagem e dublês.
Um longa-metragem de ação como há muito tempo eu não via, Mad Max: Fury Road é acelerado, caótico, bonito, simples e tenso. Ele tem exatos 120 minutos de duração e é o filme mais longo da franquia até o momento – ainda assim, é menor que muitos de seus ‘concorrentes’ atuais. O final é um pouco mais arrastado, mas nada que prejudique demasiadamente a performance geral.
A propósito, vale acrescentar que o filme tem sido ‘acusado’ de feminista. Seria uma honra se ele realmente o fosse, mas acho que Mad Max: Fury Road se limita a evitar machismos desnecessários. A trama envolve mulheres em busca de liberdade, mas não deixa de mostrar moças bonitas vestidas de branco e se divertindo com água. Estamos no caminho certo, mas ainda há muito chão pela frente!
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