Divagações: Fantastic Four
5.8.15
Não nego que Fantastic Four não é lá a minha franquia favorita no grande portfólio da Marvel nos quadrinhos. Apesar de apresentar ideias interessantes e importantes para a composição do universo cósmico da editora, o grupo acaba sendo vítima do seu próprio conceito inicial, que não é lá tão interessante ou dramático como outros que fizeram a fama da Casa das Ideias. Tanto é que, ao menos nos quadrinhos, o Quarteto já não existe mais (pelo menos por enquanto). E isso já seria um sinal amarelo para qualquer produção cinematográfica que tentasse emplacar uma aventura com os heróis. Não que isso fosse intimidar a Fox, já que depois de dois filmes terríveis dirigidos por Tim Story, nada poderia ser pior. Ou poderia?
Agora comandado pelo não lá muito experiente Josh Trank, Fantastic Four segue uma pegada mais próxima ao universo ultimate da Marvel, com um Reed Richards (Miles Teller) adolescente e inexperiente. Acompanhado de seu amigo de infância Ben Grimm (Jamie Bell), ele consegue construir com sucata um aparelho capaz de enviar objetos através de dimensões. Isso acaba chamando atenção do Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey), que deseja integrar Richards em sua equipe da qual fazem parte seus filhos: Sue (Kate Mara) e Johnny (Michael B. Jordan), além do rebelde Victor Von Doom (Toby Kebbell).
Ainda que o filme comece bem, com um jeitão de ficção científica e com uma apresentação bacana dos personagens, não demora para que tudo vá ladeira abaixo. Ao invés de abraçar a ambientação que estava se desenvolvendo organicamente, Fantastic Four se força a ser um filme de super-heróis tradicional, o que não se mostra uma decisão muito acertada.
Literalmente, o filme se transforma no momento em que o grupo ganha poderes em um acidente no laboratório. Deste ponto em diante, a história tropeça em um mar de clichês, frases dramáticas completamente gratuitas e o completo fim de qualquer desenvolvimento que aqueles personagens poderiam ter. Para piorar, o ritmo muda completamente, tentado levar o filme para um grande clímax de modo repentino e abrupto, o que faz pouquíssimo sentido dentro da história.
Nem o visual é particularmente interessante. Com uma computação gráfica não muito caprichada e, por vezes muito óbvia, a única ressalva é o novo visual do The Thing, que realmente parece ser feito de pedra – ao contrário do aspecto emborrachado usado por Michael Chiklis em 2005. Do lado diametralmente oposto, talvez tenhamos a pior representação do Dr. Doom em qualquer mídia, com uma roupa terrível, poderes incompreensíveis e motivações completamente sem embasamento, um grande desperdício do personagem de Toby Kebbell, que até certo ponto do filme realmente parecia ter potencial.
Ironicamente, o filme é ruim não pelos motivos que todos temiam. O universo é bem apresentado, o clima mais escuro e realista casa com essa primeira metade do filme e até os atores entregam uma boa performance neste trecho inicial, que é bem mais sobre pessoas do que sobre gente com superpoderes voando por aí. Porém, o que realmente incomoda é justamente a parte que não estava nos trailers e onde poderiam estar as melhores surpresas, dando a entender que se não mostraram antes, é justamente porque não tinham nada de bom para apresentar.
Sem conseguir entregar um quarteto “família” como nos quadrinhos e sem desenvolver uma identidade própria que funcione no cinema, Fantastic Four simplesmente cai na mediocridade, sobretudo por não conseguir compreender que, hoje em dia, não é mais possível entregar um produto pouco inspirado e esperar que este faça sucesso apenas porque é estrelado por gente de collant e cheio de efeitos especiais. Se a própria Marvel Studios, bem-sucedida nos cinemas como é, tem problemas para enfrentar a fadiga que já atinge a fórmula, cabe a concorrência arriscar ainda mais, sempre se reinventando e apresentando coisas diferentes, coisa que Fantastic Four está longe de conseguir.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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