Divagações: Mary and Max

Existem alguns filmes que fazem história com pequenas coisas. Por exemplo, Mary and Max foi a primeira animação a abrir o Festival de Su...

Existem alguns filmes que fazem história com pequenas coisas. Por exemplo, Mary and Max foi a primeira animação a abrir o Festival de Sundance. Não parece ser algo muito importante, mas é um ótimo passo em direção a animações mais adultas e variadas, capazes de experimentar diferentes técnicas e contar histórias com uma identidade visual marcante.

Já aproveito para acrescentar que o filme pode, sim, ser interessante para as crianças e não apresenta nenhuma temática pesada (o que não diminui o valor do ‘adultas’ no parágrafo acima). De qualquer modo, aconselho que os pais ou responsáveis confiram de antemão algumas questões que podem causar controvérsias dentro de casa (clique aqui para ler o Guia para Pais).

Voltando ao que interessa! Mary and Max conta a história de dois amigos por correspondência unidos pelo acaso. Mary Daisy Dinkle (Bethany Whitmore e Toni Collette) é uma menina australiana sem amigos que vive com uma mãe alcoólatra e um pai ausente. Já Max Jerry Horovitz (Philip Seymour Hoffman) é um nova-iorquino obeso, solitário que já teve sete empregos diferentes e recebe o diagnóstico de Síndrome de Asperger. Os dois dividem grandes angústias e pequenas conquistas ao longo de diversos anos, mas acabam sempre perdendo as chances de se encontrarem pessoalmente.

Embora a vida de ambos seja complicada, eles conseguem levar novas perspectivas um para o outro – o fato de sempre colocarem um doce junto com a carta ajuda. Enquanto Horovitz dá conselhos para Mary e motivações para a sua vida, ela o presenteia de diversas formas, abrindo um mundo de novas possibilidades para ele. Visualmente, ela está em uma realidade sépia, de modo que sua infância parece ser enxergada com olhos de nostalgia. Já ele está em um mundo em preto e branco, onde toda a cor já se esgotou.

Com essa paleta e a temática, dá para perceber que o diretor e roteirista Adam Elliot não teve medo de fazer seu filme parecer depressivo. Por mais que tenha muitos elementos tristes, no entanto, Mary and Max não deixa de ser uma história sobre esperança e amizade. É um filme capaz de fazer seus espectadores rirem, chorarem e ligarem para os amigos (não necessariamente nessa ordem).

Para completar, a produção também conta com uma excelente qualidade técnica. A direção de arte é primorosa (o que é essencial para segurar uma produção muito dependente de suas escolhas visuais) e absolutamente rica em detalhes. Destaco o design dos personagens e a caracterização do ambiente onde eles vivem, elementos que ajudam a criar o devido contraste entre os dois protagonistas. Para registro, vale observar que foram usados 133 cenários, 212 bonecos e 475 objetos em miniatura para compor as cenas, incluindo uma máquina de escrever funcional.

Mesmo assim, o principal mérito de Mary and Max ainda é o de ser um filme no qual os adultos possam embarcar. Tratando de temas pesados com delicadeza e humor, a produção consegue ser encantadora, o que explica a quantidade de fãs que acumulou ao longo dos anos. Lançado em 2009, o filme não chamou muita atenção do público em geral, mas está sendo descoberto aos poucos e tem tudo para entrar no imaginário coletivo.

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