Divagações: Snowpiercer

Snowpiercer percorreu um longo caminho até chegar aos cinemas brasileiros. O filme estreou na Coreia do Sul em 29 de julho de 2013, pass...

Snowpiercer percorreu um longo caminho até chegar aos cinemas brasileiros. O filme estreou na Coreia do Sul em 29 de julho de 2013, passou por diversos festivais nesse ano e no seguinte, alternando as apresentações com estreias comerciais em diversos países. A princípio, o lançamento por aqui seria em 17 de abril, mas ele foi desmarcado e foi com surpresa que a produção chegou às salas de cinema na última quinta-feira (27).

Com roteiro e direção de Joon-ho Bong, o filme é uma produção multinacional, resultado de uma parceria entre Coreia do Sul, República Tcheca, Estados Unidos e França. Não é à toa que há um elenco bem diverso e muitas línguas sendo faladas ao longo dos 126 minutos de projeção.

A história de Snowpiercer envolve um mundo que sofreu com o aquecimento global e tentou resolver a situação com um resfriamento forçado – que deu errado e acabou congelando todo o planeta. Os únicos sobreviventes da raça humana estão em um gigantesco trem, que foi desenvolvido por Wilford (Ed Harris). Autossuficiente, esse meio de transporte se transformou em uma mini sociedade forçadamente dividida em classes: quanto mais para a frente do trem, mais privilégios.

Curtis (Chris Evans), no entanto, vive nos últimos vagões. Percebido como um líder, ele começa a movimentar uma revolução com o apoio de um dos anciãos do trem, Gilliam (John Hurt); de um admirador fiel, Edgar (Jamie Bell); e de uma mãe desesperada, Tanya (Octavia Spencer), apenas para citar alguns dos revoltosos. Para o plano dar certo, eles precisam da ajuda do ex-responsável pela segurança do trem, Namgoong Minsoo (Kang-ho Song), e de sua filha, Yona (Ah-sung Ko), ambos viciados em drogas. No caminho, eles precisam enfrentar Mason (Tilda Swinton), uma fervorosa defensora da organização social, e Franco (Vlad Ivanov), um sanguinário mantenedor da ordem.

Absolutamente levado por seus personagens – como deveria ser toda obra de revolução –, o filme confia muito em seus atores e alcança uma boa dinâmica. E se Chris Evans parecer distante ou destoante, é preciso considerar que isso é perfeitamente coerente com seu papel, o que torna esse trabalho um de seus mais memoráveis como ator.

Obviamente, não é muito difícil perceber que tudo não passa de uma metáfora para o mundo cruel em que vivemos. O problema é que, a partir do momento em que isso já ficou bem claro, o filme parece se desprender da necessidade de ser crível e começa a trazer algumas sequências mais absurdas. Ou será que isso não é um problema? Afinal, o irreal e a loucura também fazem parte das temáticas trabalhadas por Joon-ho Bong. Isso sem contar que o absurdo mantém o frescor do filme e faz com que o espectador se surpreenda a cada nova sequência – mesmo que isso desperte alguns risinhos amarelos ou momentos de desconforto.

Por ainda lembrar da campanha de marketing um tanto quanto sombria que o filme recebeu, acabei tendo uma boa revelação ao efetivamente assistir Snowpiercer. O filme poderia ser muito mais obscuro e assustador do que efetivamente é, mas ele evita os caminhos mais fáceis. Arrisca ser irregular e mudar de tom mais de uma vez, entrega respostas que poderiam ficar ocultas por um pouco mais de tempo e têm desfechos marcantes. Ou seja, não se trata de uma obra difícil e esse nem parece ser o objetivo, o que não muda o fato de que é um filme autoral e fruto de um pensamento independente (ainda que adaptado dos quadrinhos de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette).

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