Divagações: Bananas

Unir comédia e política é algo que funciona muito bem desde a Grécia antiga. Em seu primeiro filme com controle criativo total – e o últi...

Unir comédia e política é algo que funciona muito bem desde a Grécia antiga. Em seu primeiro filme com controle criativo total – e o último a escrever em parceria com Mickey RoseWoody Allen resolveu fazer graça com o momento histórico vivido por muitos países da América Latina, sem deixar de dar uma cutucada nos Estados Unidos. Era 1971 e o timing foi perfeito para falar sobre ditadura militar, comunismo e a cultura midiática de vedetes. Quem poderia imaginar que, tantos anos depois, Bananas continuaria a fazer tanto sentido?

As primeiras cenas mostram a tomada de poder do General Emilio M. Vargas (Carlos Montalbán) no país fictício San Marcos, com direito a jornalistas estadunidenses previamente informados sobre o assassinato do presidente – e a postos para mostrar o evento ao vivo. Corta para o relacionamento entre Fielding Mellish (Woody Allen), um homem atrapalhado que ganha a vida testando produtos inúteis, e Nancy (Louise Lasser), uma jovem idealista que participa de todo o tipo de protestos e defende milhares de causas, incluindo protestos contra ditaduras.

Dessa forma, quando o namoro acaba, Fielding acaba viajando sozinho para San Marcos e, em pouco tempo, ele se vê envolvido em uma trama do governo para desestabilizar os rebeldes, liderados por Esposito (Jacobo Morales). Não é muito difícil prever o que acontece desse ponto em diante, mas uma coisa é certa: os caminhos são tortos. Como o objetivo de Allen é muito mais fazer graça que criticar o que acontece fora dos Estados Unidos, o filme não se preocupa em aprofundar a situação do povo, nem em apontar a ideologia dos rebeldes, mas o cenário é válido mesmo assim.

A propósito, Bananas é engraçado. Muito engraçado! Os diálogos são ótimos e Woody Allen abriu bastante espaço para improvisação durante as filmagens. Como já é esperado (pelo público atual, pelo menos), as cenas do relacionamento entre os protagonistas trazem muitos traços dos diálogos absurdos pelo qual o cineasta seria facilmente reconhecido posteriormente. Contudo, há também um bocado de sátira e de comédia física. Em conjunto, tudo funciona muito bem, com um ritmo adequado e um equilíbrio de malabarista, daqueles que mantém constantemente uma ou duas piadas no ar, sem deixar nada cair no chão.

Ao longo do tempo, foram constantes as comparações desse filme a Duck Soup, o que faz sentido, principalmente porque o humor dos irmãos Marx influenciou muito Allen no começo de sua carreira (Charles Chaplin é outra referência, é preciso acrescentar!). Além disso, ambas as produções envolvem conflitos militares e governantes que se importam mais com os próprios umbigos que com seus países. Mas é importante lembrar que um não é a cópia do outro e, semelhanças a parte, os dois filmes são ótimos e merecem ser vistos!

Uma verdadeira lição sobre como fazer comédia, Bananas traz diálogos insanos para situações absurdas que, se você parar para pensar, podem até ter alguma ligação com a realidade. Em uma América Latina onde as ditaduras militares parecem fazer parte do passado, é sempre bom lembrar que a estupidez humana está sempre a um passo da comédia ou da política – tanto faz.

Outras divagações:

RELACIONADOS

0 recados