Divagações: Creed

Como franquia, a série Rocky teve seus altos e baixos. O que começou como uma história bastante pé no chão sobre um azarão tendo o seu m...

Como franquia, a série Rocky teve seus altos e baixos. O que começou como uma história bastante pé no chão sobre um azarão tendo o seu momento de glória não conseguiu escapar do exagero e do melodrama, até eventualmente cair no esquecimento. Ainda que Rocky Balboa, de 2006, tenha sido um retorno bastante digno do boxeador à cultura popular, faltava um sucessor a altura do garanhão italiano para preencher o vazio deixado pelo envelhecimento cada vez mais evidente de Sylvester Stallone. A grande ironia é que quem herda as luvas de Rocky é justamente o filho do seu maior e mais icônico oponente.

Adonis Creed ou, como prefere ser chamado, Danny Johnson (Michael B. Jordan) é o filho bastardo de Apollo Creed (Carl Weathers), fruto de um caso do boxeador. Adonis cresce em orfanatos e reformatórios até ser resgatado por Mary Anne Creed (Phylicia Rashad), a esposa de Apollo. O garoto cresce com o espirito de um boxeador e, meio que as escondidas, começa sua carreira profissional em lutas improvisadas no México. Porém, quando resolve largar tudo para se dedicar completamente ao esporte, encontra a desaprovação de sua mãe adotiva, sendo forçado a deixar sua casa e buscar na Filadélfia, lar de Rocky Balboa (Sylvester Stallone), um recomeço para a sua vida.

Não dá para dizer que Creed seja inovador ou fuja muito daquela fórmula que já se consagrou em todo e qualquer filme de esporte. Ainda que não chegue ao nível Southpaw de banalidade, muito do que é diferente em Creed vem da participação de Sylvester Stallone. Enquanto Adonis segue a jornada esperada para um protagonista deste tipo de enredo, saindo do anonimato à fama e enfrentando o preconceito de seus pares, Rocky serve como um contraponto ao jovem lutador e como uma figura empática – com a grande vantagem de o conhecermos de antemão, sendo todo o seu arco dramático tão fundamental para a história quando o do próprio protagonista.

Visualmente, o filme consegue repaginar alguns dos recursos de câmera e direção que já eram consagrados na série Rocky, com giros de câmera e slow motion sendo usados de modo bastante competente. As lutas são poucas, mas bem coreografadas e com bastante impacto, ainda mais porque o estilo de luta ensinado por Balboa muitas vezes se resume a “quem consegue apanhar mais ganha”. Aliás, não faltam referências visuais e musicais aos antigos filmes da série Rocky, sendo que o tema principal é utilizado com frequência e nos mais diversos arranjos – ainda que com níveis variáveis de sucesso.

No geral, posso dizer que Creed está para Rocky o que o episódio VII de Star Wars está para o episódio IV. Os dois apresentam uma história similar, repaginada para um público mais novo, mas sem esquecer da presença dos personagens de longa data para agradar aos fãs antigos.

Alguns podem reclamar de que se trata de uma obra derivativa ou que, em sua ânsia para manter Stallone relevante, o filme acabe reduzindo um pouco o desenvolvimento dramático do protagonista – já que literalmente questões pessoais do personagem são resolvidas como um passe de mágica perto do final do filme. Você até pode mesmo argumentar que montagens de treinamento já perderam a graça faz muito tempo e é preciso parar de abusar desse recurso (sério gente, chega de montagem). Porém, tal como em Star Wars: The Force Awakens, Creed consegue reavivar uma chama no seu público e abrir espaço para novos filmes da franquia. Mesmo não sendo um filme perfeito, é uma obra sólida e que me faz acreditar que o legado de Rocky estará seguro nas mãos do diretor e roteirista Ryan Coogler.

Outras divagações:

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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