Divagações: The Secret of Kells

Não é de hoje que eu reclamo da falta de criatividade nas animações, do excesso de franquias, da subestimação da inteligência do púbico i...

Não é de hoje que eu reclamo da falta de criatividade nas animações, do excesso de franquias, da subestimação da inteligência do púbico infantil e dos estilos pasteurizados. Felizmente, há gente fazendo coisas diferentes e aproveitando a quantidade infinita de possibilidades que a animação pode oferecer.

O trabalho de Tomm Moore é um exemplo disso. Contudo, mesmo sendo premiado em festivais e elogiado pela crítica, ele permanece carente de uma distribuição que alcance o grande público. Nos Estados Unidos, por exemplo, The Secret of Kells não conseguiu ultrapassar o número de 37 salas de cinema – alcançando por pouco os pré-requisitos necessários para uma indicação ao Oscar.

Lançado em 2009, o filme foi a primeira incursão de Moore pela direção. A história traz o menino Brendan (Evan McGuire), que vive em uma vila medieval ameaçada por terríveis ataques bárbaros. Enquanto seu tio, que também é o líder religioso da comunidade, Cellach (Brendan Gleeson), insiste na construção de uma muralha, o menino se encanta com as possibilidades trazidas por uma criatura mágica da floresta, Aisling (Christen Mooney), e por um iluminador, Aidan (Mick Lally), que o apresenta a um livro antigo e cheio de uma sabedoria secreta.

Assumindo com orgulho sua origem irlandesa, a produção aposta em um visual colorido e maravilhoso, cheio de detalhes folclóricos e abusando de diferente técnicas para desenhar perspectivas. Vai ser difícil encontrar alguém que não se encante pelas cores vibrantes, pelas paisagens cheias de detalhes divertidos e pela trilha sonora absolutamente charmosa de Bruno Coulais.

Enquanto muitos erram tentando ser extremamente realistas, The Secret of Kells acerta em brincar o máximo possível com a maneira de enxergar as coisas. É a criatividade e os referenciais visuais sendo colocados a favor do cinema! Isso pode até causar estranheza em um primeiro momento, mas é divertido e garante que o filme seja único.

Vale observar que o filme pode até ter uma mensagem dúbia para aqueles temerosos de uma interpretação extremista e religiosa. Seus personagens não estão entre os mais bem desenvolvidos e alguém com um olhar mais crítico pode ter dificuldade em se deixar levar pelas paixões demonstradas. Para os adultos, essa é uma questão de saber perceber e interpretar os méritos daquilo que passa diante de seus olhos.

Já com as crianças, é preciso conversar sobre as ideias apresentadas e tirar o melhor delas. Há muitas coisas boas – desde preocupação ambiental a necessidade de respeitar os mais velhos, passando pelo amor aos livros. Mas o fato é que The Secret of Kells é o que é, uma história carregada de significados, dependente de suas referências culturais e de pessoas imperfeitas.

Repleto de magia, The Secret of Kells é uma alegria para os olhos e um sopro de novidade para quem quer mais das animações. Parece um conto de fadas, mas não é exatamente isso. Lembra um conto folclórico, mas não se limita a isso. Não é um romance, nem uma comédia, nem uma aventura, nem uma tragédia. É uma viagem fantástica, na qual vale a pena deixar todas as preocupações de lado e simplesmente embarcar.

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