Divagações: December Boys
19.4.16
Não é todo dia que cruzamos com um filme australiano, ainda mais quando ele trata sobre pessoas do país e se passa por lá. December Boys é um desses casos, mas o filme ganhou mais notoriedade justamente por ter um inglês no elenco, Daniel Radcliffe. Na época, ele tinha 16 anos e ainda estava envolvido com a série Harry Potter. Assim, a produção assumia também o papel de ser um veículo para ele mostrar que pode atuar.
Apenas não espere ver mágicas por aqui. Passado durante a década de 1960, December Boys trata sobre quatro meninos órfãos – todos nascidos em dezembro – e que são melhores amigos. Graças a uma inesperada doação feita à instituição onde vivem, Maps (Radcliffe), Misty (Lee Cormie), Sparks (Christian Byers) e Spit (James Fraser) formam o primeiro grupo a viajar em um programa de veraneio.
Desde o começo, sabemos que a viagem mudará para sempre a vida dos meninos. Ao atravessar o deserto, eles também saem da vida regrada do orfanato e passam a conviver com pessoas de diferentes idades – e que não são freiras ou outros meninos. Cada um vive sua própria jornada de aprendizado e crescimento, muitas vezes envolvendo a de moradores do local, mas o destaque está no mais velho, Maps, e no mais novo, Misty.
Maps vive seu primeiro romance com a misteriosa Lucy (Teresa Palmer) ao mesmo tempo em que precisa encarar seriamente o fato de que viverá em um orfanato até chegar à maioridade. Já o segundo começa a perceber possibilidades reais de ser amado (e até adotado) pela beldade estrangeira Teresa (Victoria Hill) e pelo motoqueiro circense conhecido como Fearless (Sullivan Stapleton).
Tudo isso em um lugar maravilhoso, com direito a dunas, um mar aberto de um azul intenso e pedras gigantescas que formam cenários inigualáveis. A energia das crianças ao brincar em um lugar assim traz mudanças para a pequena comunidade local, até então centrada demais em seus próprios problemas. Mesmo sem saber, os meninos funcionam como um sopro de renovação.
Talvez essa seja a principal vantagem de December Boys. É muito raro ver no cinema como as crianças interagem entre si, como elas criam suas próprias realidades e como lidam com as dificuldades. Ao ver os quatro garotos brincando, senti saudades de ser criança e correr despreocupadamente sem medo do ridículo, do sol que queima a pele ou de qualquer outra coisa.
Abusando dessa habilidade de ser nostálgico e profundo ao mesmo tempo, o diretor Rod Hardy criou um filme que consegue cumprir suas promessas. O elenco é competente e convincente, mesmo que sem grandes destaques. Há, ainda, um grande apelo católico, mas ele me parece natural, uma vez que os meninos são criados por freiras e precisam se apegar a algo em momentos de necessidade.
Para quem não é australiano, December Boys dá um gostinho do país sem esconder que ele não é perfeito – sim, é lindo, mas isso é algo que tem um grande custo para a população. É um filme simples, que conta uma história um tanto quanto previsível, mas que não deixa de ter seus méritos, entre eles estimular uma estranha nostalgia e valorizar o que realmente é ser criança, sem que isso represente ser feliz o tempo todo.
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