Divagações: The Life Aquatic with Steve Zissou
28.4.16
Provavelmente um dos menos conhecidos filmes de Wes Anderson, The Life Aquatic with Steve Zissou é a primeira aventura do diretor após o bem-sucedido The Royal Tenenbaums. Consequentemente, a produção também representa um notável aumento no orçamento liberado para o cineasta, que aproveitou a oportunidade para retratar o fundo do mar como nunca vimos antes: repleto de criaturas fantásticas animadas em stop motion.
Visualmente impactante – e um tanto incômodo – o filme se aproveita dos efeitos pouco realísticos para ir mudando aos poucos a nossa percepção a respeito de cada um dos personagens. E não são poucos!
Steve Zissou (Bill Murray) é um documentarista sobre o fundo do mar que faz tudo no improviso, inclusive nomear as espécies que encontra. Seu melhor amigo, Esteban du Plantier (Seymour Cassel), foi recentemente comido por um tubarão-jaguar e sua esposa, Eleanor Zissou (Anjelica Huston), parece tentada a abandoná-lo por seu maior rival, Alistair Hennessey (Jeff Goldblum). Para completar, surge em sua frente Ned Plimpton (Owen Wilson), um piloto de avião que talvez seja seu filho.
Como se a vida pessoal já não estivesse complicada, Steve está com dificuldades para financiar seu próximo projeto, justamente a vingança contra o tal tubarão-jaguar. Assim, convencido por seu agente, Oseary Drakoulias (Michael Gambon), ele aceita a bordo uma jornalista grávida, Jane Winslett-Richardson (Cate Blanchett), e um representante do banco, Bill Ubell (Bud Cort). A tripulação ainda conta com o segundo-em-comando Klaus Daimler (Willem Dafoe), a continuísta Anne-Marie Sakowitz (Robyn Cohen), o cinegrafista Vikram Ray (Waris Ahluwalia), o assistente e músico residente Pelé dos Santos (Seu Jorge), um time de estagiários e mais algumas pessoas.
The Life Aquatic with Steve Zissou mostra, assim, as relações de seu protagonista com esse bando de gente (em um barco de ambientes maravilhosamente interligados). Todos dependem dele, mas é constante a sensação de que os melhores momentos agora fazem parte do passado. Ao mesmo tempo, a viagem de barco é repleta de surpresas: desde piratas e missões de resgate até o tão esperado encontro com o tubarão (um dos maiores bonecos de stop motion já construídos).
Ao som de músicas de David Bowie adaptadas para o português por Seu Jorge, essa viagem é absolutamente maluca e, de certa maneira, essencial para o futuro de cada um dos presentes. O incrível é que, por mais que os personagens sejam distantes emocionalmente do público em um primeiro momento, cada um deles vai tocar seu coração. Eles têm suas fragilidades, inseguranças, certezas e lembranças. Sentimentos retratados muito bem em um roteiro que traz a primeira parceria entre Wes Anderson e Noah Baumbach – um encontro que deveria acontecer com maior frequência.
Por mais que não seja a obra mais sã que você já viu, The Life Aquatic with Steve Zissou também não é a coisa mais pirada da Terra. Visualmente diferente, ele se aproveita disso para alcançar profundezas emocionais em pessoas aparentemente muito fechadas. É um filme muito colorido, mas também é uma obra sobre esperança, futuro, criatividade e limites desafiados.
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