Divagações: Dazed and Confused

Uma das primeiras experiências de Richard Linklater na direção e no roteiro, o filme de estreia da carreira cinematográfica de Matthew M...

Uma das primeiras experiências de Richard Linklater na direção e no roteiro, o filme de estreia da carreira cinematográfica de Matthew McConaughey, uma produção que tem nomes como Milla Jovovich e Ben Affleck em papéis menores, além de uma Renée Zellweger sem falas e não creditada. Dazed and Confused marcou época.

O filme todo se passa no último dia de aula de 1976. O dia está quente, os professores não estão muito preocupados com as aulas e o técnico do time de futebol gostaria de poder manter seus atletas ‘na linha’ durante as férias. Os veteranos do Ensino Médio saem de suas classes diretamente para a escola do Ensino Fundamental, dispostos a já começar o trote com seus futuros calouros. E vai acontecer uma festa mais tarde.

Sem se preocupar com uma trama elaborada, Dazed and Confused quer apenas retratar uma época. Há muitas gírias e bobagens sendo ditas, uma boa dose de consumo de drogas e bastante cerveja. Não há muito espaço para os adultos e nem para pensar no futuro, mesmo ele sendo uma ameaça constante.

Também há muita, mas muita música – tanto que mais de 15% do orçamento da produção foi destinado para os direitos autorais. Os acontecimentos parecem sintonizados em uma rádio e as canções de sucesso se seguem indefinidamente ao longo de todo o filme, com a vantagem de terem uma ordem que condiz com as necessidades narrativas.

Mesmo situado na década de 1970, o filme consegue aquela aura de retratar não apenas a juventude de uma época, mas o próprio sentimento da adolescência. Cada um dos personagens traz uma parcela dos estereótipos dessa fase da vida, mas nenhum é simplesmente uma coisa.

Pink (Jason London) é o veterano legal, o jogador de futebol americano indeciso sobre o futuro e um cara que não liga muito para a namorada. Mike (Adam Goldberg), Tony (Anthony Rapp) e Cynthia (Marissa Ribisi) usam palavras difíceis, são nerds com ares filosóficos e querem aprender a curtir a vida. Darla (Parker Posey) resolveu ser cruel com algumas calouras. Pickford (Shawn Andrews) só queria dar uma festa. Slater (Rory Cochrane) prefere um estilo de vida com muita maconha. Mitch (Wiley Wiggins) e Sabrina (Christin Hinojosa) são os calouros arrastados para a noitada, sendo apresentados a esse mundo.

E esses são apenas alguns exemplos. Como Dazed and Confused não é exatamente direcionado por seus personagens, a produção também não exige muito aprofundamento. É como se, ao invés de ser baseado em um livro (o que realmente não é), o filme fosse baseado em um quadro.

Acompanhamos personagens que vivem preocupada e despreocupadamente. Alguns só querem saber de beber, jogar e fazer sexo. Outros estão confusos demais para fazer qualquer outra coisa que não seja seguir em frente. Entre as melhores falas do filme, eu destacaria essa: “If I ever say these were the best years of my life, remind me to kill myself”. É a própria nostalgia lembrando que nem tudo eram flores.

Dazed and Confused é Richard Linklater mostrando desde cedo a que tinha vindo. Um cineasta de pequenos e grandes momentos, ele acabou se especializando não em narrar histórias, mas em fazer retratos, seja de uma geração (como é o caso), de um casal ou de uma única pessoa. É um cinema diferente e que talvez não seja agradável para todos, mas que aqui se mostra em toda a sua glória e energia. Crescer é difícil, mas o caminho vale a pena.

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