Divagações: Fight Club
7.7.16
"The first rule of Fight Club is you do not talk about Fight Club". E é isso. Fim da resenha. The end.
Mas, pensando bem, esse é um filme sobre quebrar as regras. Então, vamos adiante.
Dizem que, quando a então presidente da Fox, Laura Ziskin, recebeu a obra original de Chuck Palahniuk para uma possível adaptação, ela até gostou do livro, mas afirmou que ele nunca poderia ser transformado em um filme por ser 'extremamente perturbador', 'volátil e perigoso', e que 'faria o público se contorcer'.
A questão é: não é exatamente isso que muita gente busca quando vai ao cinema, lê um livro ou visita um espaço de arte? Presos em um conceito comercial, os executivos de Hollywood muitas vezes esquecem que o desconforto também traz uma espécie de prazer para o ser humano, que as pessoas (até certo ponto) precisam de dor, sofrimento, de choques e controvérsias para se sentirem verdadeiramente vivas.
Coincidentemente, Fight Club é justamente sobre isso. E é também sobre o vazio provocado por estilos de vida impostos pela publicidade e por uma legião de homens carente de um referencial masculino próximo, ou seja, de uma figura paterna. Sendo bastante radical e definitivo na forma como expressa seus temas, o filme é convincente e chocante, de modo que não surpreende quando muitos dizem que ele 'retrata uma geração' – embora eu não acredite que isso seja exatamente verdade.
Na história, um homem aparentemente bem-sucedido (Edward Norton) – que tem um emprego de grande responsabilidade, sofre de insônia e tem o hábito de frequentar grupos de apoio aleatórios todas as noites – acabou de perder todas as suas posses materiais e vai morar com um cara excêntrico que conheceu em um avião, Tyler Durden (Brad Pitt). Mesmo tendo estilos de vida bem diferentes, os dois se tornam amigos rapidamente e, em após um momento que mistura de brincadeira e desabafo, criam o Fight Club, um espaço para brigas corpo a corpo entre dois homens.
Em pouco tempo, a casa de ambos se torna a sede não apenas de uma fábrica de sabonetes feitos com uma matéria-prima inesperada, mas também de algo maior, por onde trafega a problemática Marla Singer (Helena Bonham Carter) e diversos membros do tal clube. Isso também significa que as coisas também começam a sair de controle e há algo de perigoso nos planos de Tyler. Mas o que exatamente isso seria?
Fight Club é uma daquelas histórias que depende extremamente do elemento surpresa, então, evitei entregar muita coisa na minha sinopse. Se você já sabe o que vai acontecer, boa parte do impacto está perdida para sempre. Felizmente, tive a oportunidade de ver o filme pela primeira vez em um estado de ignorância. Obviamente, esse não é mais o caso e resolvi ler o livro antes de rever a obra.
Estourando orçamentos e deixando muita coisa para a improvisação dos autores, David Fincher conseguiu dar o toque de rebeldia necessário ao mesmo tempo em que foi bastante fiel ao livro original. Com esse tipo de mensagem, seria relativamente fácil fazer que o filme fosse 'engolido' por si mesmo e passasse a ser uma propaganda daquilo que despreza (e foi isso que, de certa forma, aconteceu na campanha de marketing original). Por meio de suas escolhas, o diretor garantiu que sua obra permaneça relevante mesmo depois de tantos anos e manteve a capacidade de fazer o público se contorcer nas cadeiras.
Com um visual relativamente sujo e estranhamente saturado (derivado das lentes esféricas escolhidas para filmagem e de técnicas de revelação), o diretor de fotografia de Fight Club, Jeff Cronenweth, conseguiu transpor a mensagem das páginas para a tela ao mesmo tempo em que acrescentou um impacto visual forte. Não diria categoricamente que 'o filme é melhor que o livro' ou vice-versa, mas a verdade é que é difícil esquecer o que Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter fazem na tela (ainda mais acompanhados por Meat Loaf, Jared Leto e tantos outros).
O problema, então, torna-se alegar que o filme não quer que aquilo se torne realidade. A situação é absurda e não pode ser (de forma fiel) reproduzida intencionalmente. Há quem chame o longa-metragem de fascista, 'macho porn' ou selvagem. Há quem alegue que suas interpretações da psique dos protagonistas é falha, fraca ou exagerada. E há quem o perceba como uma crítica a tudo isso. Mas a verdade é que se trata de uma questão de interpretação. O que eu acho é que essa é uma obra de ficção feita para incomodar – e ela ficará viva enquanto ainda mantiver essa capacidade.
Mas, pensando bem, esse é um filme sobre quebrar as regras. Então, vamos adiante.
Dizem que, quando a então presidente da Fox, Laura Ziskin, recebeu a obra original de Chuck Palahniuk para uma possível adaptação, ela até gostou do livro, mas afirmou que ele nunca poderia ser transformado em um filme por ser 'extremamente perturbador', 'volátil e perigoso', e que 'faria o público se contorcer'.
A questão é: não é exatamente isso que muita gente busca quando vai ao cinema, lê um livro ou visita um espaço de arte? Presos em um conceito comercial, os executivos de Hollywood muitas vezes esquecem que o desconforto também traz uma espécie de prazer para o ser humano, que as pessoas (até certo ponto) precisam de dor, sofrimento, de choques e controvérsias para se sentirem verdadeiramente vivas.
Coincidentemente, Fight Club é justamente sobre isso. E é também sobre o vazio provocado por estilos de vida impostos pela publicidade e por uma legião de homens carente de um referencial masculino próximo, ou seja, de uma figura paterna. Sendo bastante radical e definitivo na forma como expressa seus temas, o filme é convincente e chocante, de modo que não surpreende quando muitos dizem que ele 'retrata uma geração' – embora eu não acredite que isso seja exatamente verdade.
Na história, um homem aparentemente bem-sucedido (Edward Norton) – que tem um emprego de grande responsabilidade, sofre de insônia e tem o hábito de frequentar grupos de apoio aleatórios todas as noites – acabou de perder todas as suas posses materiais e vai morar com um cara excêntrico que conheceu em um avião, Tyler Durden (Brad Pitt). Mesmo tendo estilos de vida bem diferentes, os dois se tornam amigos rapidamente e, em após um momento que mistura de brincadeira e desabafo, criam o Fight Club, um espaço para brigas corpo a corpo entre dois homens.
Em pouco tempo, a casa de ambos se torna a sede não apenas de uma fábrica de sabonetes feitos com uma matéria-prima inesperada, mas também de algo maior, por onde trafega a problemática Marla Singer (Helena Bonham Carter) e diversos membros do tal clube. Isso também significa que as coisas também começam a sair de controle e há algo de perigoso nos planos de Tyler. Mas o que exatamente isso seria?
Fight Club é uma daquelas histórias que depende extremamente do elemento surpresa, então, evitei entregar muita coisa na minha sinopse. Se você já sabe o que vai acontecer, boa parte do impacto está perdida para sempre. Felizmente, tive a oportunidade de ver o filme pela primeira vez em um estado de ignorância. Obviamente, esse não é mais o caso e resolvi ler o livro antes de rever a obra.
Estourando orçamentos e deixando muita coisa para a improvisação dos autores, David Fincher conseguiu dar o toque de rebeldia necessário ao mesmo tempo em que foi bastante fiel ao livro original. Com esse tipo de mensagem, seria relativamente fácil fazer que o filme fosse 'engolido' por si mesmo e passasse a ser uma propaganda daquilo que despreza (e foi isso que, de certa forma, aconteceu na campanha de marketing original). Por meio de suas escolhas, o diretor garantiu que sua obra permaneça relevante mesmo depois de tantos anos e manteve a capacidade de fazer o público se contorcer nas cadeiras.
Com um visual relativamente sujo e estranhamente saturado (derivado das lentes esféricas escolhidas para filmagem e de técnicas de revelação), o diretor de fotografia de Fight Club, Jeff Cronenweth, conseguiu transpor a mensagem das páginas para a tela ao mesmo tempo em que acrescentou um impacto visual forte. Não diria categoricamente que 'o filme é melhor que o livro' ou vice-versa, mas a verdade é que é difícil esquecer o que Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter fazem na tela (ainda mais acompanhados por Meat Loaf, Jared Leto e tantos outros).
O problema, então, torna-se alegar que o filme não quer que aquilo se torne realidade. A situação é absurda e não pode ser (de forma fiel) reproduzida intencionalmente. Há quem chame o longa-metragem de fascista, 'macho porn' ou selvagem. Há quem alegue que suas interpretações da psique dos protagonistas é falha, fraca ou exagerada. E há quem o perceba como uma crítica a tudo isso. Mas a verdade é que se trata de uma questão de interpretação. O que eu acho é que essa é uma obra de ficção feita para incomodar – e ela ficará viva enquanto ainda mantiver essa capacidade.
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