Divagações: White Men Can't Jump

Valores mudam. Ideias se transformam com o tempo. Conceitos ganham novas perspectivas. Confesso que me aproximei de White Men Can't Ju...

Valores mudam. Ideias se transformam com o tempo. Conceitos ganham novas perspectivas. Confesso que me aproximei de White Men Can't Jump com bastante cuidado, temendo comentários racistas, estereótipos exagerados e cenas que não seriam facilmente aceitas em um filme feito em 2016. Há comentários racistas, mas eles são devidamente retratados como tal. Também existem estereótipos, embora vários sejam quebrados durante o próprio filme – especialmente pelas personagens femininas, as mais interessadas em mudar o estado das coisas. Obviamente, a produção não é perfeita, mas o universo que ela quer retratar também está muito longe disso.

Ou seja, o que quero dizer é que White Men Can't Jump continua divertido e faz rir mesmo estando prestes a completar 25 anos de seu lançamento (assustador, não?). Com roteiro e direção de Ron Shelton, essa comédia conseguiu envelhecer bem principalmente por não forçar as piadas, deixando tudo por conta da situação inusitada de seus personagens e das relações entre eles. Embora não deixe o público gargalhando do começo ao fim e, inclusive, aposte em alguns momentos mais dramáticos, o filme ganha pontos extras cada vez que consegue tirar humor de tudo o que está acontecendo na tela.

Na história, dois homens precisam desesperadamente de dinheiro e vão tentar usar o basquete para isso. Um deles é Sidney Deane (Wesley Snipes), que mantém um emprego estável, mas usa pequenas apostas nas quadras para complementar a renda enquanto tenta ‘subir na vida’, impulsionado por sua esposa, Rhonda (Tyra Ferrell). O outro é Billy Hoyle (Woody Harrelson), que abusa de sua aparência de péssimo jogador para fazer apostas cada vez mais altas e enganar os desavisados. Em seu caso, ele tem uma dívida para pagar e precisa ajudar sua mulher, Gloria Clemente (Rosie Perez), enquanto ela estuda para poder participar do programa de perguntas e respostas Jeopardy.

Ao se cruzarem, os dois jogadores acabam se desentendendo, mas isso dá início a uma amizade que gera mais apostas nas quadras. O detalhe é que esse não é exatamente um filme sobre basquete, mas sobre parceria, traição, idas e vindas. A tal rivalidade entre brancos e negros surge eventualmente, mas sempre acompanhada por um tom de brincadeira e humor, afinal, os dois personagens estão aprendendo a conviver e precisam saber se aproveitar dessa amizade que outros raramente poderiam prever. Isso sem contar a moça latina que está frequentemente roubando a cena!

Embora conte com uma competição, White Men Can't Jump se segura, basicamente, com uma sucessão de apostas (sim, isso é um vício perigoso!) e, consequentemente, não é um tradicional filme de esportes que culmina em uma partida final emocionante. Na verdade, como a produção explora a questão de relacionamentos a partir de diversos ângulos, depender de uma estrutura tão manjada seria até prejudicial. Inclusive, o tom de imprevisibilidade dos personagens, com o espectador não sabendo exatamente qual será a próxima ideia estúpida a passar pela cabeça deles contribui para o charme do filme e seu caráter atemporal.

[AVISO DE SPOILER] E só para dizer que não falei sobre algo importante, preciso contar que, tecnicamente, Woody Harrelson era considerado superior a Wesley Snipes nas quadras. Ainda assim, ele precisou gravar a cena em que faz uma enterrada com uma cesta de 2,8 m porque ele não conseguia alcançar a de três metros. ¯\_(ツ)_/¯

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