Divagações: Starship Troopers

É estranho, mas no contexto histórico atual – onde o fascismo parece estar muito mais próximo do que jamais o senti – um filme como Starsh...

É estranho, mas no contexto histórico atual – onde o fascismo parece estar muito mais próximo do que jamais o senti – um filme como Starship Troopers deixa de ser uma curiosidade e ganha importância. Nele, um regime totalitário é o dia a dia dos personagens, que são apenas adolescentes. Eles não só não sabem como seria a vida fora dessa realidade como foram educados para acreditar que esse tipo de governo foi a melhor forma encontrada pela humanidade. Eles não lutam contra isso, mas se integram ao sistema. No caso dos protagonistas, eles o fazem integrando o exército.

A história se passa no futuro, de modo que o grande inimigo vem do espaço. Ainda assim, a produção não se preocupa em criar um enfoque nas motivações da luta ou na busca por seu fim. Johnny Rico (Casper Van Dien) é um jovem de uma família abastada e que não sabe muito bem para onde deve caminhar em seu futuro. Quando sua namorada, Carmen Ibanez (Denise Richards), e seu melhor amigo, Carl Jenkins (Neil Patrick Harris), resolvem buscar carreiras na área militar – única forma de se tornar um cidadão e poder votar – ele decide também ir para esse caminho, sendo direcionado para a infantaria. A princípio, ele deve cumprir um período de dois anos de serviço, mas os acontecimentos que se seguem transformam sua vida para sempre.

Menos aprofundado socialmente que o livro de Robert A. Heinlein, essa adaptação comandada por Paul Verhoeven traz muitos aspectos da filmografia do diretor para o produto final. Ao invés de apostar em altas tecnologias e dar realmente um aspecto futurista ao filme, ele optou por referências à 2ª Guerra Mundial e um visual muito mais próximo à realidade. Assim, perde-se a narração em primeira pessoa e o olhar do protagonista que direciona o livro, mas o que acontece na tela fica assustadoramente muito mais próximo do público.

Para um espectador atual, é preciso considerar que Starship Troopers não envelheceu tão bem quanto poderia (o que parece ser um problema inerente às obras de Verhoeven). Embora os efeitos especiais ainda possam ser classificados como perfeitamente aceitáveis, os atores são muito velhos para seus papéis, as trocas de nacionalidades estão assustadoramente evidentes e a aura dos anos 1990 está fortemente presente nos figurinos e cabelos. Acrescento que a produção tenta trazer um futuro com menos preconceitos de gênero, mas isso esbarra em um elenco formado totalmente por pessoas brancas – ou seja, não é possível ter tudo. Talvez isso torne mais difícil mergulhar no conceito apresentado, mas o esforço vale a pena.

Frequentemente criticada por ser rasa, a produção ganha uma dimensão curiosa justamente por causa disso. A falta de profundida dos personagens diz muito sobre o universo em que eles estão inseridos. A guerra importa menos que as fofocas do acampamento, mas as mortes de colegas assustam tremendamente. Ao mesmo tempo, ninguém se revolta ou demonstra emoções mais exacerbadas. A vida militar é prática e absolutamente ignorante – e são essas pessoas que decidirão o futuro da nação.

Como leitora do livro original, tenho dificuldades em gostar de Starship Troopers, ainda que entenda seus objetivos e seus méritos. Seus personagens são imaturos e relacionamentos amorosos ganham importância em um contexto no qual eles não se encaixam bem. É uma história séria que foi transformada em uma sátira política. O filme é contundente, mas também deixa um gosto amargo sobre o que ele poderia ter sido.

Outras divagações:
RoboCop

RELACIONADOS

0 recados